quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Dia 02 de fevereiro DIA DA PADROEIRA DE CAMPO LARGO


Quando num passado, não tão distante, dirigia as encenações da Paixão de Cristo,  me chamavam a atenção e à emoção extrema além do caminho ao Calvário, e a crucificação o descendimento do corpo da cruz era para mim um espetáculo indizivelmente tocante. Faziam todos os movimentos com tanto cuidado e carinho, como se receassem causar sofrimento ao Senhor; manifestavam ao santo corpo o mesmo amor e respeito que tinham sentido para com o Santo dos santos, durante a vida. Todos que estavam presentes, não desviavam os olhos do corpo do Senhor e acompanhavam todos os movimentos e manifestavam solicitude, estendendo os braços, derramando lágrimas ou por outros gestos de dor.


E todos guardavam silêncio entre os seus soluços; os homens que trabalhavam, penetrados de um respeito involuntário, como quem toma parte num ato religioso, só falavam a meia voz, para chamar a atenção ou pedir qualquer objeto. Quando ressoaram as marteladas que fizeram sair os pregos, Maria Santíssima, Madalena e todos que tinham assistido à crucificação, sentiam de novo as dores dilacerantes daquela hora; pois esses golpes lhes lembravam as dores cruéis de Jesus causadas pelas marteladas e todos estremeceram, pensando ouvir-Lhe novamente os gemidos penetrantes e contudo se afligiam de que a santa boca Lhe houvesse emudecido, no silêncio da morte... As encenações ocorriam em áreas adjacentes e no pátio da Capela Jesus Misericordioso,  Águas Claras, aqui na cidade de Campo Largo.

Quando refletimos sobre a imagem esculpida em bloco único de mármore por Michelangelo e a reverência realizada por católicos e cristãos que enaltecem a dor de uma mãe ao ter em seus braços o filho morto depois de ter acompanhado todo o seu sofrimento,  nos faz também olhar o sofrimento dela, e não é de admirar que a chamemos de Nossa Senhora da Piedade, Pietá. 

Se prestar atenção e olhar com os olhos do poetha José de Anchieta quando escreveu e descrever estas dores pelos olhos de Maria...

Anchieta ficou refém dos índios tamoios e isolado por 2 meses na Praia de Iperoig, descreveu em versos os sofrimentos de Jesus Cristo até o escândalo da Cruz, sob os olhos da Virgem Maria, que ao seguir para aquela fatídica Páscoa em Jerusalém, sabia o que estava por acontecer.

Hoje na comemoração da Padroeira da cidade de Campo Largo e no tempo pascal , a proposta é meditar sobre o sofrimento de Jesus e de Maria especialmente com o poema de Anchieta que põe em vista a compaixão e o pranto da Virgem.



"Por que ao profundo sono, alma, tu te abandonas,

e em pesado dormir, tão fundo assim ressonas?

Não te move a aflição dessa mãe toda em pranto,

que a morte tão cruel do filho chora tanto?

Se o não sabes, a mãe dolorosa reclama

para si quanto vês sofrer ao filho que ama.

Pois quanto ele aguentou em seu corpo desfeito,

tanto suporta a mãe no compassivo peito."

O sacrifício do Filho do Altíssimo no altar da Cruz foi também o sacrifício da Mãe de Deus. No Calvário, Nossa Senhora diz novamente aquele sim que disse à vontade do Pai na Anunciação (cf. Lc 1, 38). O oferecimento de Cristo ao Pai em sacrifício pelos nossos pecados foi também a entrega em sacrifício de Maria, por amor de toda a humanidade:

"Mas a fruta preciosa, em teu seio nascida,

à própria boa mãe dá para sempre a vida,

e a seus filhos de amor que morreram na rega

do primeiro veneno, a ti os ergue e entrega."

O coração de Jesus Cristo era também o coração da Virgem Maria, transpassado pela dor de Mãe devido à morte do seu único Filho. A vida do Filho de Deus, totalmente entregue à vontade do Pai, era a mesma vida da Virgem Mãe, que se entregou inteiramente ao desígnio do Altíssimo:

"Sucumbiu teu Jesus transpassado de chagas,

ele, o fulgor, a glória, a luz em que divagas.

Quantas chagas sofreu, doutras tantas te dóis:

era uma só e a mesma a vida de vós dois!"

Este coração, de Jesus e de Maria, é para nós morada de paz no mundo e torrente de Água Viva que jorra para a vida eterna. Peçamos a Virgem Maria que sejamos purificados nesta fonte.

"Ó morada de paz! sempre viva cisterna

da torrente que jorra até a vida eterna!

Esta ferida, ó mãe, só se abriu em teu peito:

quem a sofre és tu só, só tu lhe tens direito."

Que nesse dia 02 de fevereiro seja tempo de conversão, meditemos sobre as dores, os sofrimentos da Santíssima Virgem Maria. Vamos nos entregar à intervenção do Coração de Cristo.

Como herdeiros do entusiasmo cristão, deixemos que seu exemplo ilumine nossa ação pastoral. Seu amor a Jesus deve encher nosso coração de uma grande paixão por Ele. Sua dedicação diária deve ser um estímulo para também nós renovarmos nossa entrega total ao Reino de Deus. E termino com as palavras do Papa Francisco :

“E quem ama passa da morte à vida. É o amor que faz a Páscoa”.
(CM)

"Parabéns Campo Largo por sua Padroeira."



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