quarta-feira, 26 de abril de 2023

O pai e o filho (Jacó 2-4)

 O PAI E O FILHO (Jacó 2-4)

     

     O Livro de Jacó é o terceiro livro no Livro de Mórmon e foi escrito por Jacó, irmão de Néfi. Jacó e José haviam sido consagrados por Néfi para serem responsáveis para ensinar o povo. Antes de falecer, Jacó recebeu os registros feitos por Néfi e continuou a escrever.

     Nos capítulos 2-4 encontramos exortações ao povo admoestando as pessoas a serem moralmente limpas. Jacó também ensinou sobre a vinda de um Messias redentor e apresentou alguns motivos pelos quais alguns em Israel não O aceitariam em Sua vinda. Os nefitas claramente tinham uma compreensão mais ampla e clara sobre a missão do Salvador e a realidade da vinda de Cristo. Jacó menciona a realidade do Salvador de forma mais clara e objetiva que achamos no Velho Testamento. É possivel que nos registros levados pelos nefitas houvesse mais referências ao Salvador do que no que temos hoje no Velho Testamento. Por meio do Profeta Joseph Smith sabemos que muitas partes claras e preciosas foram perdidas. Também sabemos que Joseph restaurou conhecimento mais precioso sobre o Salvador que estão no livro Pérola de Grande Valor. 

     Alguns eruditos da igreja acreditam que o sermão de Jacó em Jacó 4 revela que ele simpatizava com algumas crenças israelitas antes da Reforma Deuteronômica. Quando Jacó fala de "judeus" em Jerusalém, ele provavelmente tem em mente um certo grupo de reformadores judeus deuteronômicos, nem todos os judeus. Alguns dos temas que Jacó discute em seu sermão, mas que foram desprezados por esses reformadores judeus em Jerusalém, incluem a associação de Deus com a "sabedoria", a visão de Deus, o relacionamento de Jeová com El (como um relacionamento filho e pai) e de conhecimento profético de coisas passadas e futuras. Jacó não foi criado em Jerusalém, mas provavelmente aprendeu alguns desses temas e as controvérsias sobre elas em Jerusalém com Leí e Néfi.


- A Deidade

     O Dr. Eugene Seaich (erudito e autor religioso mundialmente renomado) indicou que muitos estudiosos descobriram que a teologia cananeia e israelita cedo reconheceram dois conjuntos distintos e separados de traços divinos: um para um "Pai dos deuses e dos homens" e o outro para “um Filho do primeiro” que era um "deus moribundo e ressuscitado”, que deu vida a todas as criaturas e gerou o cosmos para o Pai. Seaich explica que o Deus Altíssimo foi chamado de "El e seu filho de Baal pelo menos durante o tempo da monarquia israelita". Os israelitas que retornaram do deserto com a religião mosaica referiram-se ao filho de El como Yahweh. Algumas evidências dessa distinção ainda sobrevivem em nossas escrituras do Antigo Testamento (ver Deut. 32:8-9, Salmos 82, Prov. 30:4). Ele também observa que o capítulo 1 de Gênesis fala de Elohim (a forma mais longa de El) como o criador, enquanto o capítulo 2 fala de Yahweh-Elohim. Seaich escreve: “... a reforma mosaica, que só começou como tentativa de erradicar os excessos licenciosos a que o antigo politeísmo tinha afundado (Ex. 32), levou pelo menos meia dúzia de séculos para se estabelecer como a verdadeira religião de Israel, Eliminando no processo muitas verdades anteriores, antes de emergir como o "monoteísmo ético" do judaísmo tardio ... No novo monoteísmo ... o Elohim e o Yahveh anteriores [que antes eram compreendidos como dois seres distintos] se tornaram o único "YHWH-Elohim" de Deut. 6:4 ... A completa assimilação de dois Deuses em um provavelmente durou tanto quanto a "Reforma Monoteísta", isto é, a partir de 1500 a 500 B.C ... Finalmente, o próprio Antigo Testamento foi completamente submetido a uma revisão correspondente, conhecida como "Revisão Deuteronômica". (Seaich, Ancient Texts and Mormonism, pgs 15-21)

     Assim, Jacó compreendia bem que, enquanto Leí vivia em Jerusalém, muitos Israelitas ainda tinham a compreensão não corrompida pela idolatria, de que El e Yaweh eram dois seres distintos, sendo o segundo, filho do primeiro. Isto não deveria ser novidade para os Cristãos, sendo que o Novo Testamento é rico em referências à realidade da natureza separada do Pai e do Filho. Como evidência desta compreensão, temos os escritos de alguns proeminentes cristãos dos primeiros séculos, evidenciam a crença numa pluralidade de Deuses. Justino Mártir, por exemplo, identifica a realidade distinta do Pai e do Filho, bem como a existência de outros deuses.

     Clemente de Alexandria identifica diferentes graus de glória e aponta a herança dos que foram perefeitos junto com os deuses:  “...Há várias moradas, de acordo com o merecimento daqueles que tem acreditado. Estas moradas, que são três, são indicados pelos números no evangelho: 30, 60 e 100, e os de perfeita herança pertencem àquele dos que alcançam a perfeição de acordo com a imagem do Senhor para se tornarem como Deus... Para a herança dos senhores e deuses é trazido, se for perfeito de acordo com o evangelho como o próprio Senhor ensinou.” (Clemente de Alexandria, Somatra 6:14)

     É importante mencionar que, embora os santos dos últimos dias creem numa pluralidade de deuses, a começar pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo, que são três seres distintos com a mesma divindade (assim como os primeiros cristãos acreditavam), somente um Deus deve ser adorado, que é o Deus Altíssimo de eternidade em eternidade. O Élder Boyd K. Packer, um membro do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou: “O Pai é o único Deus verdadeiro. Isto é uma certeza: Ninguém jamais ascenderá acima Dele; ninguém jamais tomará o Seu lugar. Tampouco nada poderá jamais mudar o relacionamento entre Ele e nós, Seus filhos literais. Ele é Elohim, o Pai. Ele é Deus, como Ele só existe um. Nós reverenciamos nosso Pai e Deus; nós O adoramos.” (A Liahona, janeiro de 1985, p. 70.)

     Nossa crença em uma deidade separada não deve ser considerada politeísmo. O Elder Jeffrey R. Holland, um apóstolo moderno, escreveu: "Reconhecer a prova das escrituras de que os membros da Trindade, perfeitamente unidos em todos os outros sentidos, são, não obstante, seres separados e distintos, não nos torna culpados de politeísmo. Trata-se, sim, de parte da grande revelação que Jesus veio conceder-nos sobre a natureza de seres divinos. Talvez o Apóstolo Paulo tenha-se expressado melhor, ao dizer: “Cristo Jesus (…) sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”. (Eder Holland, Conferência Geral de outubro de 2007).



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