sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Morôni e os Santos dos Ultimos Dias

 Por Elder Abilio Machado 

Morôni é uma figura central na religião e história do Movimento dos Santos dos Últimos Dias, também conhecido como mórmons. Segundo a crença dos santos dos últimos dias, Morôni foi um profeta antigo e o último guardião das placas de ouro que mais tarde foram traduzidas por Joseph Smith Jr. e se tornaram o Livro de Mórmon.


De acordo com a tradição mórmon, Morôni apareceu a Joseph Smith em 1823 como um mensageiro celestial, instruindo-o sobre as placas de ouro enterradas na colina Cumora. Ele teria orientado Smith sobre como encontrá-las e, após a tradução, teria recebido de volta as placas. Morôni é considerado um mensageiro angelical crucial para o início do movimento mórmon e é reverenciado como um dos principais profetas do Livro de Mórmon.


Além disso, Morôni é frequentemente retratado na arte e na iconografia mórmon, muitas vezes aparecendo em topos de templos e outras representações visuais dentro da fé mórmon. Ele é considerado um símbolo de fé, testemunho e serviço para os membros dessa religião.


Por que os templos têm o Anjo Morôni no topo? Leia a história das estátuas icônicas


Anjo Morôni, em pé, no topo da torre de um templo de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias anunciando a Restauração, parece um toque final natural e necessário para cada casa do Senhor.

Contudo, a presença de Morôni nos templos, que são muitos pelo mundo, é uma adição relativamente recente a esses edifícios sagrados e se tornou um padrão somente nas últimas décadas.

“Pensamos nas estátuas do Anjo Morôni como um padrão para os templos hoje, mas isso porque elas têm sido colocadas nos templos desde a década de 1980 [quando] a grande maioria dos templos foram construídos”, disse Emily Utt, curadora de locais históricos do Departamento de História da Igreja.

Utt falou com o Church News sobre as origens das estátuas do Anjo Morôni e por que elas são destaque nos templos da Igreja de Jesus Cristo.

O primeiro templo a apresentar qualquer tipo de anjo foi o Templo de Nauvoo Illinois, que tinha um anjo em formato de cata-vento. Utt explicou que, na década de 1840, esse tipo de projeto era extremamente popular nos Estados Unidos.

“Então, quando Joseph Smith estava construindo o templo de Nauvoo, eles colocaram um cata-vento naquele templo, e era um anjo, porque era o costume naquela época. Aquilo era bem comum.”

O desenho arquitetônico de William Weeks do anjo, em formato de cata-vento, no Templo de Nauvoo

O desenho arquitetônico de William Weeks do anjo, em formato de cata-vento, no Templo de Nauvoo

 

Crédito: Biblioteca de História da Igreja

Este anjo anônimo leva uma trombeta aos lábios e segura um livro na mão. Faz referência ao anjo no livro do Apocalipse proclamando a Segunda Vinda (Apocalipse 14:6).

Quando os santos dos últimos dias chegaram a Utah e começaram a trabalhar no Templo de Salt Lake, os primeiros esboços do templo também contavam com anjos em formato de cata-vento.

No entanto, na década de 1890, as tendências arquitetônicas mudaram e passou a ser comum que os grandes edifícios públicos tivessem estátuas. “A Igreja desejava manter esta figura angelical, mas as pessoas responsáveis por tomar a decisão optaram por mudar para uma figura de pé porque essa era a tendência de arquitetura da época”, disse Utt.

Cyrus Dallin, cujos antepassados haviam se filiado à Igreja, mas se afastaram logo depois que chegaram a Utah, não era membro da Igreja, mas foi contratado para esculpir uma estátua do anjo para o Templo de Salt Lake. Ele recusou o pedido do Presidente Wilford Woodruff no início, afirmando que não acreditava em anjos. Mas a mãe de Dallin logo o convenceu a aceitar a incumbência.

Trabalhadores que concluíram o Templo de Salt Lake, em 1893, posam para uma foto na torre abaixo da estátua do Anjo Morôni, de Cyrus Dallin.

Trabalhadores que concluíram o Templo de Salt Lake, em 1893, posam para uma foto na torre abaixo da estátua do Anjo Morôni, de Cyrus Dallin. 

 

Crédito: Biblioteca de História da Igreja

“Alguns desses primeiros esboços não lhe dão um nome e alguns deles o chamavam de Gabriel”, disse Utt. É provável que a estátua de Dallin tenha sido originalmente Gabriel, o que era muito comum na época para as igrejas.

Antes da estátua ser levada para o Templo de Salt Lake, os líderes da Igreja foram vê-la no estúdio de Dallin. Segundo Utt, “Um dos apóstolos disse: ‘Devemos chamá-lo de Morôni’. E em cerca de uma semana, o nome da estátua não era mais Gabriel. Estava sendo chamada de Morôni.”

O Morôni de Dallin foi criado em um estilo neoclássico, tem vestes esvoaçantes com um manto curto que deixa os braços descobertos e usa um barrete.

Utt disse que nenhuma evidência foi encontrada explicando por que precisava ser Morôni, mas este passou a ser o nome depois disso.

Outros 60 anos se passariam até que outra estátua de Morôni fosse colocada em um templo.

Millard F. Malin em uma escada ao lado de sua estátua do Anjo Morôni, em aproximadamente 1956. Esta estátua foi colocada no Templo de Los Angeles Califórnia.

Millard F. Malin em uma escada ao lado de sua estátua do Anjo Morôni, em aproximadamente 1956. Esta estátua foi colocada no Templo de Los Angeles Califórnia. 

 

Crédito: Harold S. Rumel, Biblioteca de História da Igreja

O Templo de Los Angeles Califórnia, que foi dedicado em 1953, apresentou uma estátua criada pelo artista local Millard F. Malin. Utt a descreveu como “uma pintura de Arnold Frieberg”. Este Morôni tem características nativas americanas, uma vestimenta maia, sandálias nos pés, corpo musculoso, a mão direita esticada à frente com a palma para cima segurando uma trombeta e o braço esquerdo segurando as placas de ouro.

Naquela altura, não estava mais na moda ter estátuas em edifícios, mas os líderes da Igreja escolheram colocar uma estátua de Morôni neste templo por causa do que ela representava.

“O edifício do templo de Los Angeles foi um marco”, disse Utt. “Foi um monumento para celebrar o crescimento da Igreja.”

Duas décadas depois, outro templo monumental recebeu uma estátua de Morôni, esta projetada por Avard Fairbanks. O Templo de Washington D.C., que foi dedicado em 1974, tinha uma estátua do Anjo Morôni segurando placas de ouro, como a estátua de Malin, e vestes que lembram a estátua de Dallin.

“Assim como o de Los Angeles é um edifício monumental na Costa Oeste, o Templo de Washington D.C. é um edifício monumental na Costa Leste”, disse Utt. Junto com o Templo de Salt Lake, esses edifícios “representam que a Igreja está aqui, a Igreja é permanente e a Igreja ficará por aqui por um longo tempo. E por isso é unificador ter estátuas de Morôni nesses três templos”.

A estátua do Anjo Morôni, de Avard Fairbanks, é vista no Templo de Washington D.C.

A estátua do Anjo Morôni, de Avard Fairbanks, é vista no Templo de Washington D.C. 

 

Crédito: Izac Conn Peterson

Utt também observou que o templo de Washington D.C. não foi o primeiro edifício histórico da Igreja a ter uma estátua de Morôni naquela cidade.

“O edifício da Ala Washington D.C. foi projetado como um tipo de marco no centro de Washington D.C.”, disse Utt. Ficava ao lado de outras igrejas proeminentes e de muitas embaixadas próximas. “Então aquele prédio foi projetado para ser um grande edifício no coração da capital [do país].”

Torleif S. Knaphus, conhecido por seu Monumento do Carrinho de Mão na Praça do Templo, foi contratado para criar uma estátua de Morôni com base na escultura de Dallin. Embora sejam semelhantes na parte de baixo, sua escultura tem braços mais robustos. Foi colocada na capela da Ala Washington D.C. no início da década de 1930. Quando o prédio foi vendido, a estátua foi removida em 1976 e colocada no Museu de História da Igreja, onde permanece em exposição.

Depois que o Templo de Washington D.C. foi dedicado, “A Igreja entrou nesta era de templos padrão. Estávamos construindo templos menores e mais rapidamente”, disse Utt. Os arquitetos da Igreja procuraram uma maneira de criar unidade entre os templos, e a estátua de Morôni se tornou uma maneira fácil de tornar um templo identificável.

No início, a estátua de Fairbanks ou a estátua de Knaphus seriam construídas em diferentes escalas e colocadas em um templo. Mas então, a Igreja incumbiu Karl Quilter, não só de projetar uma nova estátua do Anjo Morôni, mas também de criar uma que fosse mais fácil de construir e transportar.

Quilter tinha experiência em desenho industrial e experiência trabalhando com fibra de vidro. “Então queríamos anjos leves e fáceis de transportar e que pudessem ser construídos em diferentes escalas”, disse Utt. Estas esculturas de fibra de vidro são leves o suficiente para que possam ser transportadas de helicóptero e são mais econômicas do que as enormes e pesadas estátuas de bronze.

A primeira estátua do Anjo Morôni de Karl Quilter, no topo da torre principal do Templo de Dallas Texas, vista do outro lado da rua do portão leste.

A primeira estátua do Anjo Morôni de Karl Quilter, no topo da torre principal do Templo de Dallas Texas, vista do outro lado da rua do portão leste. 

 

Crédito: Ed Woolf, Intellectual Reserve, Inc.

Incumbido da tarefa no ano de 1978, Quilter elaborou duas estátuas de Morôni — a primeira segura a trombeta com o braço direito esticado, a manga esquerda é lisa com a bainha reta, o braço esquerdo está abaixado e o punho fechado. A segunda segura a trombeta com o braço menos esticado, rugas definidas, uma bainha na manga esquerda e punho solto.

Em 1998, Quilter redesenhou sua estátua de Morôni novamente, com uma construção maior, vestes em camadas, a mão esquerda aberta e seu corpo se virou ligeiramente para mostrar mais ação.

A estátua final foi criada por LaVar Wallgren. Ele trabalhou arduamente com Quilter e também criou moldes do Anjo Morôni de Knaphus, da Ala Washington D.C., para uso em outros templos. O Anjo Morôni de Wallgren é mais jovem que os outros, usa vestes com uma faixa amarrada, e segura um pergaminho na mão esquerda.

Esta tendência arquitetônica, que se tornou uma tradição célebre, é agora algo esperado nos templos. Alguns templos, que não foram projetados com uma estátua do Anjo Morôni em mente, tiveram uma adicionada após serem reformados e rededicados.

Quando a Igreja está projetando e construindo templos, “não estamos isolados”, disse Utt. “As pessoas que os estão projetando têm como base suas próprias origens e experiências.”

Das tendências arquitetônicas de se construir um edifício monumental com um padrão facilmente reconhecível para os templos — seja qual for o seu propósito — as estátuas do Anjo Morôni são uma forma dos santos dos últimos dias celebrarem a conclusão de outra casa do Senhor e lembrarem como a Restauração começou.

E, em última análise, Morôni tem o mesmo propósito que o anjo sem nome em formato de cata-vento tinha. Como o Presidente Gordon B. explicou na Conferência Geral de Outubro de 1997, “A figura de Morôni, no topo de muitos de nossos templos, é um lembrete constante da visão de João Revelador: ‘E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo’” (“Look to the Future” [Olhe para o Futuro], Ensign, Novembro de 1997, p.67 em inglês).


Fonte Church News

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