DAVI, O POETA QUEBRANTADO
Por Abilio Machado Psicoteologia
Hoje, o homem sentado no banco da igreja não está na igreja.
Ele se encontra à beira de um rio, onde a água corre mansa entre pedras gastas pelo tempo. Ao seu lado, repousa uma harpa esquecida, uma corda solta que vibra com o vento, como se ainda quisesse cantar. O homem olha para a correnteza e sente que ali existe um salmo não escrito, um lamento que a água carrega até o infinito.
Ele pensa em Davi, o poeta quebrantado.
O rei que chorava como criança.
O guerreiro que, mesmo coberto de vitórias, se desnudava diante de Deus em confissão.
O homem que transformou o peso dos pecados, das perdas e da solidão em poesia.
Quantas vezes Davi fugiu para cavernas, perseguido, e ali escreveu versos que ainda hoje ecoam?
Quantas vezes o palácio não foi suficiente para calar o vazio, e só a música lhe trouxe alívio?
Seus salmos nasceram do pó da alma, das noites em claro, do arrependimento sincero.
Palavras que diziam o que todo coração humano sente, mas nem sempre ousa confessar: medo, raiva, saudade, culpa, esperança.
O homem sentado olha para a harpa enferrujada.
Ele sabe que, no fundo, todos nós temos nossas músicas inacabadas — preces murmuradas no silêncio, lágrimas que não cabem em palavras. Davi nos lembra que até essas falhas, quando entregues a Deus, podem se tornar cântico. Que a fé verdadeira não é a que se veste de perfeição, mas a que se desnuda em vulnerabilidade.
E enquanto a água continua a correr, o homem pensa: talvez a grandeza de Davi não tenha sido apenas matar gigantes ou governar reinos, mas admitir suas fraquezas e escrever poesia delas. Porque, no fim, o que permanece não é o ouro do palácio, mas as palavras que, atravessando séculos, ainda fazem corações orarem junto com ele: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará.”
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