Quando a Liderança Esquece Seus Compromissos
Por Abilio Machado
Há um peso invisível que recai sobre os ombros de quem lidera, especialmente em ambientes onde a fé é o elo que une as pessoas. Esse peso não é apenas o de orientar, mas o de ser exemplo — um exemplo de integridade, compromisso e coerência. No entanto, muitas vezes, vemos líderes esquecerem dos combinados que fizeram com suas comunidades e com suas próprias palavras. E quando isso acontece, o impacto é profundo: a fé que deveria ser ponte torna-se um abismo.
A confiança nasce da convergência entre o que se diz e o que se faz. Em espaços de fé, essa confiança é ainda mais sagrada. Não se trata apenas de gerenciar pessoas, mas de cuidar de almas, de sustentar esperanças e de ser um reflexo dos valores que se proclamam. Mas o que ocorre quando as ações de um líder contradizem o que foi prometido? Quando os discursos inflamados e cheios de propósito são confrontados pela inércia ou por atos que desmentem tudo o que foi dito?
A resposta é simples, mas devastadora: as pessoas se afastam. Elas não deixam apenas o líder, mas muitas vezes se distanciam da fé que acreditavam ter encontrado naquele espaço. A sensação de que as palavras eram apenas um ritual vazio, de que tudo se resumia a intermediários sem conexão genuína com o que pregam, mina a essência do que deveria ser um lugar de confiança e acolhimento.
Esse tipo de desconexão cria um terreno perigoso. Quando a liderança perde credibilidade, o tecido comunitário começa a se desfazer. A mensagem, que deveria ser um farol de esperança, transforma-se em algo que muitos enxergam com desconfiança.
É aqui que entra a necessidade urgente de uma liderança comprometida com seus próprios combinados. Não basta falar sobre amor, acolhimento ou serviço ao próximo; é preciso viver isso. Não basta declarar que as portas estão abertas; é preciso estar do outro lado delas, esperando quem entra.
Os líderes que mais inspiram não são os que falam mais alto, mas os que agem de maneira mais consistente. Sua fé não é um instrumento de poder, mas um testemunho vivo que conecta palavras e atitudes. São aqueles que, em vez de intermediar uma experiência divina distante, tornam-se pontes para que cada indivíduo descubra sua própria conexão com o sagrado.
Por isso, este texto é um convite — ou talvez um lembrete — para líderes de todas as esferas. Lembrem-se dos seus combinados, daquilo que um dia vocês prometeram ao assumir essa posição. Permitam que sua fé seja vista não como um discurso, mas como um exemplo diário. Porque, no fim, não são as palavras que transformam vidas, mas a coerência entre elas e os atos.
Seria você líder apenas um repetidor de ideias e fé de outros e as adaptas a seu pré-julgamento ou conceitos e joga toda esta não ação como se fosse vontade divina? Onde é a base religiosa e onde é o conceito pessoal? Pense, reflita...
Quando há essa coerência, a fé deixa de ser mediada e se torna vivida. E é assim que se constrói um espaço de verdadeira confiança e proximidade, onde ninguém precisa se afastar para procurar, em outro lugar, aquilo que deveria ter encontrado ali.
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