– DAVI, O REI HUMANO E FALHO
Por Abilio Machado
Hoje, o homem sentado no banco da igreja subiu até o telhado de uma casa antiga. As telhas rangem sob seu peso, o sol se despede atrás dos prédios e a noite começa a vestir a cidade. Ele olha para baixo, para as janelas iluminadas, onde vidas se cruzam em silêncio. E pensa em Davi.
Não o pastor que enfrentou Golias.
Não o salmista de harpa em mãos.
Mas o rei que caiu do trono da própria consciência.
Davi, o ungido, o poeta, o guerreiro, se perdeu em uma noite comum, no lugar errado, com os olhos fixos na direção errada. Do alto do telhado, viu Bate-Seba. E, a partir desse olhar, deixou a paixão se tornar poder, o desejo virar violência, o erro se transformar em assassinato.
Aquele que unificou um reino foi incapaz de governar a si mesmo.
O homem no telhado suspira. Pensa em quantos líderes, pastores, políticos, homens e mulheres de hoje carregam o mesmo peso. Gente que se apresenta como exemplo, mas que no íntimo sabe dos becos escuros da alma. Gente que tenta maquiar erros, manipular narrativas, apagar rastros.
Mas sempre há um profeta que aparece com a parábola na boca, como Natã diante de Davi: “Tu és o homem.”
O telhado é um lugar perigoso: alto o suficiente para olhar tudo, mas também para cair de si mesmo. E o homem sentado sabe disso.
A diferença entre Saul e Davi não foi a ausência de falha — ambos falharam.
Foi a resposta à falha. Saul se justificou, culpou, endureceu.
Davi chorou, quebrou, escreveu salmos de arrependimento que até hoje ecoam: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro.”
O homem continua sentado no telhado.
Não há harpa em suas mãos, nem coroa em sua cabeça. Apenas o peso do reconhecimento: todos nós somos um pouco Davi — frágeis, vulneráveis, cheios de desejos que podem nos trair. Mas também todos podemos ser Davi: capazes de chorar, recomeçar e, quem sabe, transformar até o pecado em poesia de redenção.
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