OS JUÍZES ESQUECIDOS
Por Abilio Machado
Hoje, o homem sentado no banco da igreja não está na igreja.
Ele se encontra no parque da cidade, mas não no balanço, nem na gangorra. Senta-se num carrossel enferrujado, desses que giram quando alguém empurra, mas que agora está parado, coberto de ferrugem. Ele olha para os cavalinhos imóveis, sem brilho, e sente que há uma história escondida naquilo que não gira mais.
Ali, ele pensa nos juízes esquecidos.
Otniel, que venceu batalhas, mas cujo nome pouco ecoa.
Eúde, o canhoto que libertou Israel com uma adaga escondida.
Sangar, que derrubou inimigos apenas com uma aguilhada de bois.
E depois, Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom… homens que governaram, mas deixaram quase nada além de números: quantos anos julgaram, quantos filhos tiveram, quantas cidades governaram.
Na gangorra de Eli havia silêncio por omissão.
No carrossel, o silêncio é de esquecimento.
Eles existiram, mas a roda da história quase não girou para lembrá-los.
E o homem suspira: quantos de nós também somos “juízes menores”? Pessoas que viveram, trabalharam, sofreram, amaram… mas cujos nomes não entram em livros, nem viram manchetes, nem são citados em púlpitos. A memória do mundo é seletiva. Só alguns nomes ficam, os outros se dissolvem no tempo como tinta desbotada.
Mas talvez aí esteja a lição.
Nem toda liderança precisa de palco. Nem todo ato precisa de lembrança para ter valor. Otniel, Eúde, Sangar e os outros carregam esse lembrete: que o bem feito em silêncio continua sendo bem, mesmo se o carrossel da história parar e ninguém mais se lembrar de empurrar.
O homem olha o brinquedo abandonado. Pensa que, no fim, só há duas memórias que importam: a que fica diante de Deus e a que fica gravada no coração de quem foi alcançado por nossos pequenos gestos. O resto é carrossel que gira e para, gira e para, até se perder na ferrugem.
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