"ELI, até quando você ficará imóvel, sem reação?"
Por Abilio Machado
Hoje, o homem sentado no banco da igreja não está na igreja.
Ele foi ao parque, mas não para brincar. Senta-se numa gangorra, sozinho, parado no ar. Não há ninguém para contrabalançar seu peso. A madeira range, e o ferro enferrujado parece perguntar: “até quando você ficará imóvel, sem reação?”
Naquele balanço que não balança, ele pensa em Eli. O juiz, o sacerdote, o homem de Deus… mas também o pai que fechou os olhos para a corrupção dos filhos. Eli via, mas não agia. Sabia, mas não confrontava. A cadeira onde ele se sentava virou símbolo de sua omissão — e da sua queda.
A gangorra é uma boa metáfora para isso: a liderança é sempre um jogo de peso e contrapeso. O problema é quando um lado da balança pesa demais e ninguém tem coragem de levantar o outro. Eli permitiu que seus filhos transformassem o sagrado em lucro, a fé em negócio, o altar em feira. Ele escolheu o silêncio, e o silêncio custou caro: a arca foi levada, a honra perdida, a glória partiu.
E hoje?
Quantos “Eli” se sentam nas cadeiras de nossas instituições, igrejas e parlamentos? Quantos preferem o conforto do cargo e a conveniência dos relacionamentos à difícil decisão de corrigir os seus? Quantas vezes vemos líderes apontando dedos para os de fora enquanto protegem seus próprios filhos, amigos e aliados, como se houvesse duas medidas: uma para o público, outra para os íntimos?
O homem na gangorra suspira. Sabe que o preço da omissão não é só pessoal: é coletivo. Quando quem deveria corrigir escolhe fechar os olhos, toda a comunidade sofre. A glória se vai, a confiança se quebra, e sobra apenas um ferro enferrujado, rangendo num parque vazio.
O homem continua parado, pesado de pensamentos. A gangorra não sobe, não desce. O silêncio dele também pesa. Ele entende, com um nó na garganta, que o mundo não precisa de mais “Eli”. Precisa de coragem.
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