Hoje, abri uma revistinha que deixaram nesta semana sobre as mesinhas em frente do Hospital de Clínicas-UFPR, vi o senhor do aplicativo que deixou uma velha senhora e rapidamente saiu do seu carro e distribuiu uma a uma sobre as mesinhas revestidas de cacos de azuleijos, todas diferentes, com anotações das lições, e como sempre gosto de tirar minhas próprias conclusões dos estudos, deparei-me com 2 Timóteo 4: 12-17... E saiu esta crônica:
*O Poder das Palavras*
por Abilio Machado
Era uma tarde de outono quando Timóteo, jovem discípulo de Paulo, recebeu a carta que mudaria o rumo de seus pensamentos. A mensagem trazia não apenas conselhos, mas um sopro de ânimo para enfrentar as dificuldades que ele sabia que viriam. No capítulo 4, dos versículos 12 a 17, Paulo, já cansado e ciente de sua proximidade com o fim, mostrava a força de suas palavras, suas experiências e advertências.
Paulo pediu que Timóteo viesse logo. Queria sua presença e ajuda, mas também seus livros e pergaminhos. Mesmo em seus últimos dias, Paulo reconhecia o valor do conhecimento e da palavra escrita, como se cada linha pudesse ainda alimentar corações e mentes, mesmo quando ele não estivesse mais por perto.
E assim, lemos naqueles versículos:
"Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, especialmente os pergaminhos". (2 Timóteo 4:13)
A simplicidade do pedido contrasta com a profundidade do seu significado. Paulo queria manter-se aquecido, protegido do frio, tanto no corpo quanto no espírito. Seus pergaminhos, talvez contendo escrituras e anotações, eram o alimento de sua alma.
Ele menciona também Alexandre, o latoeiro, alguém que lhe causou muitos males. Era uma advertência para que Timóteo estivesse atento, pois a jornada não seria fácil. "O Senhor lhe pague segundo as suas obras", diz Paulo, como quem entrega a justiça nas mãos divinas. Ele sabia que nem todos os que encontraria pelo caminho trariam bondade. A estrada era longa e cheia de obstáculos, mas sua fé permanecia inabalável.
No entanto, Paulo não se queixava de solidão. Mesmo abandonado por alguns, ele escreveu com serenidade:
"Ninguém esteve ao meu lado na minha primeira defesa; todos me desampararam. Que isto não lhes seja imputado." (2 Timóteo 4:16)
Aqui, há um toque de misericórdia. Em meio à dor da traição, Paulo perdoa. Ele não guarda rancor, mas segue adiante, confiando que Deus estaria ao seu lado até o fim.
E assim, conclui:
"Mas o Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fui livre da boca do leão." (2 Timóteo 4:17)
A imagem do leão, feroz e pronto para devorar, representa os perigos iminentes. Mas Paulo, fortalecido por sua fé, escapou de suas garras, protegido por algo maior.
Analogias com os dias de hoje...
Essa passagem nos convida a uma reflexão sobre a atualidade. Hoje, estamos rodeados por palavras — nas redes sociais, nas notícias, nos encontros diários. Muitas vezes, enfrentamos julgamentos, como Paulo diante de Alexandre, o latoeiro. Existem aqueles que nos ferem, intencionalmente ou não, e podemos nos sentir abandonados em momentos cruciais.
Quantas vezes nos encontramos sozinhos em meio à multidão, como Paulo durante sua primeira defesa? Esperamos apoio, mas acabamos enfrentando os desafios de cabeça erguida, contando apenas com a nossa força interior.
Em nossos dias, a "capa" que nos protege do frio pode ser a sabedoria que buscamos, os conhecimentos que adquirimos e o consolo que encontramos na fé, no autoconhecimento ou nos laços que cultivamos. Tal como Paulo desejava seus pergaminhos, nós também buscamos por algo que alimente nossas mentes e espíritos, em meio ao caos moderno.
A história de Paulo nos lembra que, mesmo quando os amigos falham, quando a solidão se impõe, ou quando enfrentamos os "leões" que nos cercam — seja o medo, a insegurança ou as dificuldades da vida —, ainda há uma força maior que nos sustenta. Seja por meio da fé, da resiliência ou do amor, sempre há algo que nos fortalece.
E assim como Paulo pediu a Timóteo que viesse rápido, também devemos estar atentos às pessoas que precisam de nós hoje. Nos dias de correria e distração, há sempre alguém que anseia pela nossa presença, pela nossa palavra ou simplesmente por um ato de compaixão.
Tal como Paulo, que perdoou e seguiu em frente, nós também devemos cultivar o perdão. O rancor aprisiona, mas o perdão liberta. E, ao final de tudo, seremos lembrados não pelo que acumulamos, mas pelo que transmitimos — as palavras que dissemos, os gestos que fizemos e o amor que compartilhamos.
Assim, a crônica de Paulo nos ensina que, em meio aos desafios, as palavras têm o poder de nos proteger, curar e guiar, hoje e sempre.