TÁ EM CASA MAIS A TARDINHA? TÔ INDO AÍ!
Por Abilio Machado
Acordei neste sábado com uma rotina pronta, planejada como um roteiro, mesmo com as dores e remédios. Sabia que o dia teria sua dose habitual de compromissos: medicação, faxina, e-mails, redes sociais no banheiro , formatar o novo livro digital e algumas pausas forçadas para lembrar que me programei em assistir a Conferência de Outubro na TV ou no computador. Uma espécie de marasmo bem organizado como quase todos os dias quando não estou no hospital sendo apertado ou furado por agulhas. Mas eis que, entre uma tarefa e outra, o celular vibra. Uma mensagem curta e direta: "Tá é casa mais a tardinha? Estamos indo aí!", ao qual respondi: Afeee, vou ter de tomar banho e tirar o pijama...hahahahaha!
Na hora, um misto de surpresa e alegria tomou conta. Quem mandava? Claro, os amigos de a muito, Jeová encontrei ainda obtém na rua, depois do branco que me deu no banco. A dupla que dispensa cerimônia, Jeova e Abel, que já conheço a tanto tempo, antes mesmo de ficarmos amigos. Não há avisos antecipados, planejamento ou espera; eles apenas decidem e vêm, ou dão uma passada entre uma visita de trabalho ou entrega a fazer. Uma invasão de carinho sem pedir licença, e quando você percebe, já estamos trocando histórias e risadas como se o tempo não tivesse passado, hoje não uoi diferente, mesmo a esposa de Jeová estando junto, pareceu que também já era de casa.
Tem algo mágico nesse tipo de amizade. A presença espontânea, quase invasiva, parece desafiar a lógica da vida contemporânea, onde agendas se entopem e encontros viram eventos burocráticos marcados com semanas de antecedência. Não, aqui o papo é outro. Eles simplesmente chegam, e é como se o ar mudasse na casa. O ambiente antes silencioso ganha novas frequências, risadas preenchem os vazios e o clima fica leve, como se alguém abrisse a janela e deixasse entrar uma brisa que há tempos faltava. Não somos da mesma igreja porém comungamos do mesmo Pai Celestial.
Você já parou pra pensar no quanto isso faz bem? Parece simples, mas é um remédio poderoso. Ouvir os cachorros em algazarra e abrir a porta, ir ao portão e abrir para os amigos de longa data é uma cura para o corpo, a mente e o espírito. Vê-los carregando caixas para lhe agradar. O corpo, esse coitado que anda tenso, travado em rotinas sem fim de exames e consultas, se solta. O riso é um exercício sem igual, e de repente, todos aqueles músculos endurecidos por causa do estresse diário e fibromialgia relaxam. A mente, antes em turbilhão, se aquieta. A conversa informal é leve, sem cobranças, e as preocupações são empurradas para um canto qualquer. E o espírito? Ah, esse flutua. O reencontro alimenta a alma como poucas coisas no mundo conseguem.
É como um retorno às origens. O espírito se lembra de tempos mais simples, quando a gente ia à casa do vizinho sem avisar, batia na porta e já entrava, minha infância na Vila Silka. A vida era mais solta, menos ensaiada. Esse tipo de amizade, que não pede permissão nem faz rodeios, nos devolve um pedaço desse passado e lembra do quanto é importante simplificar.
Claro, também tem o caos. Aquela correria de última hora pra arrumar o sofá, esconder a bagunça ou dar um jeito em algo e lembrar que não tem coador para o café. Mas esse caos é quase terapêutico. Ele te tira do piloto automático, te faz lembrar que a perfeição é dispensável quando o que importa é a presença. Aliás, é exatamente isso: eles vêm e te lembram que estar presente vale mais que qualquer formalidade ou arrumação.
No fim de tudo, quando os amigos vão embora, tentando lhe soltar dinheiro para lhe ajudar na mão, logo depois do abraço, sabe, a vida fica uma paz. Um silêncio diferente, menos pesado. Você deita a cabeça no travesseiro e percebe que aquele recado simples — "Tá em casa mais a tardinha? Estamos indo aí!" — fez mais pelo seu bem-estar do que qualquer terapia ou retiro espiritual, onde já comecei brincando: _ Afee vou ter de tomar banho e tirar o pijama hahhahaha. A amizade é essa troca sem igual, que aquece por dentro e faz a vida ter um sabor diferente, mais doce, mais verdadeiro.
Então, da próxima vez que você receber aquela mensagem inesperada, não se assuste com a falta de aviso. Abra a porta, sirva o café, chá ou suco, mesmo quecseja de pacotinho, e se deixe invadir por essa energia que só os amigos podem trazer. Porque, no fundo, a vida é isso: um convite constante para rir, relaxar e lembrar que nunca estamos sozinhos.
E se vierem sem avisar? Melhor ainda.
Amei a visita de vocês...
05102024
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