domingo, 8 de dezembro de 2024

ANGÚSTIA COM CHEIRO DE PANETONE! _ Me disse Fernanda.

 

Angústia com cheiro de panetone

por Abilio Machado 


Fim de ano. A cidade vestida de luzes, vitrines prometendo um mundo de afeto em 12 parcelas sem juros, e eu aqui, parado na cozinha, encarando um panetone com certa mágoa. A frase da Fernanda ecoava na cabeça: "Angústia com cheiro de panetone". Ela falou rindo, mas aquilo grudou em mim como o cheiro de fermento doce que invadia a casa.

Porque, vamos combinar, panetone é uma entidade emocional. Ele aparece na mesa, todo pomposo, com uma embalagem dourada que promete mais do que entrega. Chega como símbolo de festa, mas também de um tempo que pesa. Cheiro de abraços forçados, de mensagens de "Feliz Natal" no WhatsApp enviadas por obrigação, de retrospectivas que nem sempre a gente quer assistir.

E o pior? O panetone tem essa cara de quem sabe tudo. Aquela massa inchada, as frutinhas que parecem olhar para você com julgamento passivo-agressivo. "E aí, foi um bom ano?" ele pergunta, sem falar nada. E o que você responde? Isso sem falar daquela música repetida que te acusa: " O ano termina, e o que você fez?"

A verdade é que o panetone não mente. Ele é o retrato do que o Natal se tornou pra muitos de nós: uma mistura de doçura e peso. Entre uma fatia e outra, dá pra sentir os pedaços de memória – umas boas, outras meio amargas, como aquelas passas que todo mundo finge gostar, mas ninguém realmente quer no prato.

Eu gosto da Fernanda porque ela não tem medo de botar em palavras aquilo que todo mundo sente e finge que não. "Angústia com cheiro de panetone" é basicamente um resumo da vida adulta: aquela sensação de estar num lugar que deveria ser alegre, mas carregando um quê de melancolia que você não sabe bem de onde vem.

Então eu fico ali, na cozinha, tentando lidar com o cheiro do fermento, com as lembranças de um ano esquisito e com as expectativas sobre o próximo. E penso que talvez o segredo seja aceitar o panetone pelo que ele é. Nem doce, nem triste. Só um pedaço de massa, açúcar e passado, nos lembrando que dá pra viver com tudo isso.

Corto uma fatia e mastigo devagar. Vai ver, é como a vida: às vezes é só uma questão de aprender a engolir as passas.

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