DESAPEGO
O voto de pobreza está desmoralizado. Foi deturpado demais. A arguta mente humana arranjou argumentos maravilhosos para explicar o inexplicável. Continua sendo verdade, porém, que pobreza é pobreza mes mo.
Sendo eu casado e com filhos, e tentando levar vida cristã em profundidade, encontrei no desapego uma autenticidade maior. O matrimônio não me deu a oportunidade de optar, em nome de todos os familiares, por dar até a roupa e sair nu pela praça, como o pobre de Assis. Mas a verdade evangélica me leva a I viver em desapego. E este independe de estruturas sejam quais forem.
O desapego chega a ser, tantas e tantas vezes, mais exigente que alguns votos de pobreza que só ficam no nome e na desculpa de que "sou pobre, a congre gação é que é rica". Mas se quem fez o voto usufrui da riqueza como reizinho e sente falta de conforto, e até de luxo, não se identifica com os pequeninos de Jesus. Compartilha o erro da Congregação e não partilha o acerto. Acumula como materialista e não corre riscos. E é sabido que quem não corre risco não conhece a fé. No "sentir falta" está o segredo do TER e POSSUIR. O desapego levou-me a não sentir falta de muita coisa. Tenho casa e carro, por exemplo, mas se por crise financeira ou por necessidade de manter o trabalho evangélico tiver que vender, me desfaço sem lastimar, como já tive de fazer.
Desapego é viver e conviver com as coisas, não re clamar na ausência delas, aceitar plenamente a se paração das coisas de que estamos nos servindo, não desesperar se nos é cortado o uso delas.
Desapegar-se dos bens materiais não quer dizer jogá los fora, mas utilizá-los pela ajuda que nos dão, pela colaboração que nos prestam em nosso trabalho. Não colocar-se nunca em nível de dependência daquilo que é comprável.
Ter e não possuir. Ser pobre por OPÇÃO vivida, não por imposição, ser pobre por desapego, não para se fazer de coitadinho. Ser pobre para se nivelar com os ÚLTIMOS de Jesus e com eles estar sem sentir vergonha. Oferecer o que se tem e o que se é. Ser pobre arriscando o que se tem na evangelização. Não pobre na roupa e podre de rico na segurança que está Não cobramos nada em nossas palestras, e quando atrás de nós. nossos livros não saem comemos o pão que o diabo amassou... Mas decepcionamos o demônio: ele só amassou, mas não tirou nossa fé, nosso amor pela vocação.
Basta de só querer receber! É preciso dar!
Quantas vezes, em alguns lugares, o balancete é obrigado a dar mais, mesmo que o trabalho evangélico sofra com is so. Essa pobreza é podre. o Senhor em primeira
Fico com o desapego pondo lugar. O resto é temporário.
O desapego nasce da oração vivida.
No desapego se atinge uma liberdade que ninguém pode aprisionar,
um amor que ninguém pode roubar,
uma pureza que ninguém pode sujar,
uma certeza que ninguém pode arrancar,
uma fé que ninguém pode balançar,
uma vida que ninguém pode matar,
uma esperança que ninguém pode contestar,
uma caridade que ninguém pode apagar.
Alcança-se a libertação, a vida da transcendência, já agora. Sente-se o hálito do Cristo, o sorriso do Crist o abraço do Cristo. Porque a comunhão se realiz passamos a fazer nós exatamente aquilo que Jes faria se estivesse ocupando este espaço. Exatamen igual.
Vendo o desapego, os poderosos tremem, os pequeninos se identificam e o Senhor é glorificado.
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