Salomão e a Construção do Templo – Glória Divina ou Ostentação Humana?
O homem sentado no banco da igreja, desta vez, não está no banco de madeira gasto da capela simples, mas diante de um templo monumental. As colunas imensas se erguem diante dele, douradas e lisas como se tocassem o céu. Mármore, ouro e cedro enfeitam cada detalhe. Porém, o olhar dele não se perde no brilho: fixa-se nas rachaduras quase invisíveis que começam a se abrir na base.
Salomão construiu o maior dos templos, obra admirável, centro da fé de Israel. Para muitos, foi a glória de Deus erguida na terra. Mas por trás das paredes sagradas havia suor forçado, trabalho pesado, impostos elevados. O templo foi dedicado ao Senhor, mas erguido com tijolos da exploração.
O homem suspira e pensa: quantos templos hoje seguem o mesmo roteiro? Igrejas suntuosas, palácios da fé, catedrais iluminadas… mas quantas vezes construídas às custas da dor silenciosa de quem dá o pouco que tem? Onde termina a glória divina e começa a ostentação humana?
A cena se repete no nosso tempo. Homens que confundem “casa de oração” com vitrine de poder. Púlpitos que parecem palcos de teatro. Ministérios que constroem muros altos e esquecem a porta aberta para o pobre, o doente, o caído. E o homem sentado no banco da igreja percebe que a mesma rachadura que corroía os alicerces do templo de Salomão corre hoje pelas fundações da fé: a mistura perigosa de devoção e vaidade.
A pergunta ecoa dentro dele, como martelo batendo em pedra: será que Deus olha para a grandiosidade do templo, ou para a humildade do coração que o frequenta? Será que o ouro que reveste as paredes pesa mais do que a oração de uma viúva ajoelhada num canto?
O homem se recosta no banco, e o eco de sua própria pergunta o atravessa:
“Glória divina ou ostentação humana? O templo é para Deus… ou para os homens que o erguem?”
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