domingo, 31 de agosto de 2025

SAUL _ o rei escolhido pelo desejo do povo de “ter alguém como as outras nações” - da Serie O Homem Sentado no Banco da Igreja

 


SAUL _ o rei escolhido pelo desejo do povo de “ter alguém como as outras nações”

Por Abilio Machado 

Hoje, o homem sentado no banco da igreja não está na igreja.

Ele se encontra em um ferro-velho, rodeado de carros enferrujados, peças retorcidas e coroas de metal que um dia brilharam mas agora não passam de peso inútil. Ele se senta sobre um assento arrancado de algum veículo abandonado, como um trono quebrado. O cheiro de óleo velho e ferrugem o envolve, lembrando que até o que já foi imponente pode virar sucata.


Ali, entre restos de glórias passadas, ele pensa em Saul.

O primeiro rei de Israel. Escolhido por sua estatura, pela aparência imponente, pelo desejo do povo de “ter alguém como as outras nações”. Saul começou pequeno aos próprios olhos, tímido, escondido entre bagagens. Mas o poder, quando repousou sobre sua cabeça, corroeu-lhe o coração.


No ferro-velho, cada peça parece contar a mesma história: coisas que já brilharam e hoje não passam de descarte. Assim foi Saul. Um homem que tinha tudo para ser lembrado como libertador, mas que se tornou símbolo de desobediência, inveja e medo.

Ele não suportou o peso da coroa.

A coroa virou sucata.


E o homem suspira: quantos “Saul” temos hoje?

Líderes que começam humildes, falando de servir, mas logo se perdem na embriaguez do poder. Gente que troca a obediência pela aparência, a verdade pela conveniência, a fé pelo aplauso. Governantes que governam para si, líderes religiosos que transformam púlpitos em palcos, chefes que querem ser adorados, não respeitados.


Saul queria ser rei como os outros reis. E o povo queria seguir alguém visível, em vez de confiar no invisível. O preço disso foi alto: guerras desnecessárias, paranoia, perseguição, um trono manchado de sangue e lágrimas.


O homem olha ao redor: carros retorcidos, portas amassadas, coroas quebradas. Ele entende que todo poder que não é exercido em humildade acaba aqui, no ferro-velho da história.

E murmura baixinho: “Talvez o maior rei seja aquele que nunca esquece que continua sendo servo.”



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OS JUÍZES ESQUECIDOS - da Serie O Homem Sentado no Banco da Igreja

 


OS JUÍZES ESQUECIDOS

Por Abilio Machado 

Hoje, o homem sentado no banco da igreja não está na igreja.

Ele se encontra no parque da cidade, mas não no balanço, nem na gangorra. Senta-se num carrossel enferrujado, desses que giram quando alguém empurra, mas que agora está parado, coberto de ferrugem. Ele olha para os cavalinhos imóveis, sem brilho, e sente que há uma história escondida naquilo que não gira mais.


Ali, ele pensa nos juízes esquecidos.

Otniel, que venceu batalhas, mas cujo nome pouco ecoa.

Eúde, o canhoto que libertou Israel com uma adaga escondida.

Sangar, que derrubou inimigos apenas com uma aguilhada de bois.

E depois, Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom… homens que governaram, mas deixaram quase nada além de números: quantos anos julgaram, quantos filhos tiveram, quantas cidades governaram.


Na gangorra de Eli havia silêncio por omissão.

No carrossel, o silêncio é de esquecimento.

Eles existiram, mas a roda da história quase não girou para lembrá-los.


E o homem suspira: quantos de nós também somos “juízes menores”? Pessoas que viveram, trabalharam, sofreram, amaram… mas cujos nomes não entram em livros, nem viram manchetes, nem são citados em púlpitos. A memória do mundo é seletiva. Só alguns nomes ficam, os outros se dissolvem no tempo como tinta desbotada.


Mas talvez aí esteja a lição.

Nem toda liderança precisa de palco. Nem todo ato precisa de lembrança para ter valor. Otniel, Eúde, Sangar e os outros carregam esse lembrete: que o bem feito em silêncio continua sendo bem, mesmo se o carrossel da história parar e ninguém mais se lembrar de empurrar.


O homem olha o brinquedo abandonado. Pensa que, no fim, só há duas memórias que importam: a que fica diante de Deus e a que fica gravada no coração de quem foi alcançado por nossos pequenos gestos. O resto é carrossel que gira e para, gira e para, até se perder na ferrugem.



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Eli, “até quando você ficará imóvel, sem reação?- da serie O Homem Sentado no Banco da Igreja

 


"ELI, até quando você ficará imóvel, sem reação?"

Por Abilio Machado 

Hoje, o homem sentado no banco da igreja não está na igreja.

Ele foi ao parque, mas não para brincar. Senta-se numa gangorra, sozinho, parado no ar. Não há ninguém para contrabalançar seu peso. A madeira range, e o ferro enferrujado parece perguntar: “até quando você ficará imóvel, sem reação?”


Naquele balanço que não balança, ele pensa em Eli. O juiz, o sacerdote, o homem de Deus… mas também o pai que fechou os olhos para a corrupção dos filhos. Eli via, mas não agia. Sabia, mas não confrontava. A cadeira onde ele se sentava virou símbolo de sua omissão — e da sua queda.


A gangorra é uma boa metáfora para isso: a liderança é sempre um jogo de peso e contrapeso. O problema é quando um lado da balança pesa demais e ninguém tem coragem de levantar o outro. Eli permitiu que seus filhos transformassem o sagrado em lucro, a fé em negócio, o altar em feira. Ele escolheu o silêncio, e o silêncio custou caro: a arca foi levada, a honra perdida, a glória partiu.


E hoje?

Quantos “Eli” se sentam nas cadeiras de nossas instituições, igrejas e parlamentos? Quantos preferem o conforto do cargo e a conveniência dos relacionamentos à difícil decisão de corrigir os seus? Quantas vezes vemos líderes apontando dedos para os de fora enquanto protegem seus próprios filhos, amigos e aliados, como se houvesse duas medidas: uma para o público, outra para os íntimos?


O homem na gangorra suspira. Sabe que o preço da omissão não é só pessoal: é coletivo. Quando quem deveria corrigir escolhe fechar os olhos, toda a comunidade sofre. A glória se vai, a confiança se quebra, e sobra apenas um ferro enferrujado, rangendo num parque vazio.


O homem continua parado, pesado de pensamentos. A gangorra não sobe, não desce. O silêncio dele também pesa. Ele entende, com um nó na garganta, que o mundo não precisa de mais “Eli”. Precisa de coragem.



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sábado, 30 de agosto de 2025

 "PORTUGUÊS" É O ÚNICO IDIOMA EM QUE SE PODE ESCREVER UM TEXTO SÓ COM A LETRA "P".


 "PORTUGUÊS" É O ÚNICO IDIOMA EM QUE SE PODE ESCREVER UM TEXTO SÓ COM A LETRA "P".


PODEMOS PARTIR?


Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.


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Pálido, porém perseverante, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo… "Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses".


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Passando pela principal praça parisiense, partindo para Portugal, pediu para pintar pequenos pássaros pretos. Pintou, prostrou perante políticos, populares, pobres, pedintes. - "Paris! Paris!" Proferiu Pedro Paulo. -"Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir".


Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Pai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Pai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Pai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: -Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? -Pai, proferiu Pedro Paulo, pinto porque permitiste, porém preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

O Homem de Tollund



 Descoberto em 1.950, no centro-norte da Dinamarca, o Homem de Tollund é um dos achados arqueológicos mais impressionantes do mundo, devido ao seu incrível estado de preservação. 


O indivíduo, que tinha por volta dos 20 anos de idade, foi enforcado e jogado em um pântano há 2,4 mil anos, na Idade do Ferro, mas, mesmo após tanto tempo, pesquisadores conseguiram identificar qual foi sua última refeição em vida.


No jornal científico Antiquity, aponta que ele comeu, entre 12 a 24 horas antes de morrer, um mingau feito de grãos como cevada, linho e persicária. O alimento indica que o indivíduo não foi executado como criminoso, mas foi vítima de um sacrifício humano.


#contatoimediato123 #incrivel #fantastico #descobertas #tollund

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

25 de agosto

 



DIA DO SOLDADO – HOMENAGEM AO DUQUE DE CAXIAS

Hoje, 25 de agosto, o Brasil celebra o Dia do Soldado, data escolhida em memória ao nascimento de Luís Alves de Lima e Silva, o eterno Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro.

Caxias foi mais do que um grande comandante militar: foi exemplo de disciplina, coragem e lealdade à Pátria.

 Atuou em momentos decisivos da história nacional, defendendo a unidade do Brasil em tempos de crise e consolidando nossa soberania frente a ameaças internas e externas.

Seu legado ultrapassa os campos de batalha. O Duque de Caxias encarna valores de honra, dever e dedicação ao Brasil — virtudes que até hoje inspiram gerações de soldados. 


Ao enaltecê-lo, homenageamos não apenas o líder militar, mas todos os homens e mulheres que servem ao país com bravura e sacrifício.

O Dia do Soldado é, portanto, a reafirmação do compromisso com a Pátria, da defesa de sua integridade e da construção de um Brasil mais justo e seguro. Viva o Duque de Caxias! Viva o Soldado Brasileiro!


domingo, 24 de agosto de 2025

Uma lição que todo condomínio deveria aprender:0 perigo do voto por emoção.




 Uma lição que todo condomínio deveria aprender:0 perigo do voto por emoção.


Como síndico, vivo na prática os desafios de conduzir uma assembleia. E uma das frases que mais retrata um risco comum é esta adaptação da fábula: "A formiga, com ódio da cigarra, votou no inseticida. Morreram todos, incluindo o grilo que votou nulo."


Essa metáfora é poderosa e serve como um alerta para todos nós, condôminos. Quantas vezes presenciei situações assim:


O Voto por Emoção (A Formiga): Um proprietário, incomodado com uma situação específica (seja comigo, com o zelador ou com um vizinho), deixa a razão de lado e vota contra propostas essenciais como a troca dos elevadores ou a reforma da piscina-apenas como forma de protesto. O objetivo é "punir", mas o tiro sai pela culatra, prejudicando todo o coletivo.


A Abstenção que Machuca (O Grilo): O famoso "eu não vou porque minha presença não faz diferença" ou "voto nulo". Essa atitude, infelizmente, abre caminho para que decisões ruins sejam aprovadas por uma minoria barulhenta. Quem se abstém está, na prática, entregando a gestão do seu próprio patrimônio para os outros decidirem.


A Consequência para Todos (O Inseticida): No final, uma proposta mal elaborada ou uma economia burra é aprovada. O resultado? Obra pela metade, gastos extras, e um prejuízo generalizado que afeta a valorização de cada apartamento. Todos perdem.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

O Rei que se Escondeu entre as Bagagens - da Serie O Homem Sentado no Banco da Igreja



 O Rei que se Escondeu entre as Bagagens

Por Abilio Machado 

Naquele domingo, o homem sentado não estava no banco da igreja, nem no da praça, nem na sala de espera. Escolheu o banco desconfortável de uma rodoviária.

Mochilas empilhadas, malas abertas, barulho de alto-falantes anunciando destinos. Cada passageiro com sua pressa, cada um fugindo ou chegando a algum lugar. O homem apenas observava.

Foi ali, entre malas e bagagens, que sua mente viajou de volta à história de Saul — o primeiro rei de Israel.

Escolhido em resposta ao clamor do povo que queria “ser como as outras nações”, Saul tinha tudo para dar certo. Era alto, belo, imponente. Mas quando chegou a hora da consagração, estava escondido entre as bagagens.

O primeiro rei de Israel começou sua trajetória escondido. E esse detalhe, aparentemente ingênuo, já era prenúncio do que viria: um homem sempre dividido entre a obediência e o medo, entre o chamado e as pressões, entre Deus e as expectativas do povo.

O homem sentado olhou em volta. Quantos “Sauls” ele via na rodoviária?

Homens e mulheres que, ao receberem poder, tentam parecer fortes, mas por dentro ainda se escondem em suas inseguranças. Líderes que, ao assumirem cargos, se tornam reféns da própria imagem.

Gente que vive de aplausos, mas não sabe lidar com o silêncio.

Saul começou humilde, mas terminou paranoico.

Sua maior falha não foi apenas desobedecer a Deus, mas confundir liderança com posse.

Em vez de servir, quis controlar.

Em vez de esperar, quis antecipar.

Em vez de confiar, quis manipular.

E quando Davi surgiu — jovem, corajoso, ungido por Deus — Saul o transformou em inimigo.

O trono, que deveria ser instrumento, virou prisão.

O homem no banco da rodoviária sorriu com ironia amarga. A história não mudou.

Quantos líderes, políticos ou religiosos, não começam como Saul?

Prometem renovação, falam de humildade, posam como servidores do povo. Mas, uma vez no trono, revelam o que de fato são: inseguros escondidos entre bagagens, incapazes de ouvir a Deus, mas prontos para perseguir qualquer Davi que ameace seu poder.

E o povo?

O povo segue pedindo reis.

Segue aplaudindo coroas, segue aclamando quem oferece força em troca de servidão.

A cada geração, o ciclo se repete: um Saul é erguido, o povo se empolga, e o preço vem em forma de desilusões, crises, e até guerras.

O homem fechou os olhos por um instante.

Pensou em como seria diferente se, em vez de buscar “reis” para resolver tudo, o povo aprendesse a ouvir, como Samuel ouviu, a voz que sussurra e não grita.

Mas, até lá, os Sauls continuarão se escondendo entre bagagens, e o povo continuará a procurá-los para coroá-los.

E, sentado no banco da rodoviária, o homem percebeu que talvez a maior bagagem não fosse a que os outros carregavam. Era a dele: o desejo de ter sempre alguém para governar em seu lugar.



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Entre Vozes e Reis - Samuel - da Serie O Homem Sentado no Banco da Igreja

 


Entre Vozes e Reis

Por Abilio Machado 

Naquele dia, o homem sentado não escolheu nem o banco da igreja, nem a praça da cidade. Foi parar em um banco de sala de espera de hospital.

À sua volta, pessoas murmuravam em fila, cada uma com sua dor, cada uma aguardando a vez de ser chamada. Na televisão pendurada no alto, desfilavam políticos sorridentes, pastores milionários em paletós cintilantes, gurus digitais vendendo soluções rápidas para o vazio existencial. Todos falavam alto. Todos prometiam. Todos exigiam que alguém acreditasse.


O homem suspirou fundo.

Ali, no meio daquela sinfonia de vozes, lembrou-se de Samuel — o menino que, ainda criança, ouviu a voz que ninguém mais ouvia. Não era propaganda, não era manipulação, não era autopromoção. Era apenas a simplicidade do chamado:

“Fala, Senhor, porque o teu servo ouve.”


Enquanto Samuel ouvia, os filhos de Eli, sacerdotes do templo, se afundavam em corrupção.

Usavam o altar para ganho próprio, abusavam da fé do povo, transformavam o sagrado em mercado.

Era a decadência espiritual de um sistema religioso que já não produzia vida, mas apenas escândalos.

E nesse contraste, um menino se ergue como profeta.


Israel, porém, não queria meninos ouvindo a Deus.

Queria reis.

“Dá-nos um rei, para que sejamos como as outras nações”, gritava o povo.

E Deus, pela boca de Samuel, advertiu:

— O rei tomará seus filhos para a guerra.

— Tomará suas filhas para servirem nos palácios.

— Tomará suas terras, colheitas, impostos, o suor e até a liberdade.

Mas o povo insistiu. E Saul foi coroado.


O homem sentado na sala de espera sorriu, mas era um sorriso cansado, meio amargo.

A história se repetia diante dos seus olhos.

O povo ainda clama por reis.

Hoje não são apenas tronos de ouro, mas cadeiras de poder, púlpitos televisivos, cadeiras legislativas.

Buscamos governantes como se fossem messias, líderes religiosos como se fossem oráculos, influenciadores como se fossem profetas.


E quando um “rei” se levanta, o preço chega.

Chega em forma de promessas não cumpridas, em forma de dívidas, em forma de exploração de fé e trabalho.

O povo, que queria tanto ser como “as outras nações”, acaba sempre refém da sua própria pressa de ter um líder visível em vez de um Deus invisível.


O homem sentado olhou em volta.

Quantos naquela sala de espera não estavam também aguardando um “rei” particular?

Um médico que resolvesse todas as dores.

Um pastor que aliviasse todas as culpas.

Um político que apagasse com decretos séculos de desigualdade.

Todos, de alguma forma, ainda repetiam: “Dá-nos um rei”.


Mas Samuel já havia alertado:

Não é a voz mais alta, não é a figura mais imponente, não é o discurso mais convincente que revela a verdade.

É a voz que se ouve no silêncio.

Aquela que não grita, mas sussurra no coração.

Aquela que não promete coroas, mas exige fidelidade.


O homem, cansado da espera, fechou os olhos por um instante.

Não pediu reis, não pediu atalhos.

Apenas repetiu baixinho, quase como uma oração esquecida:

“Fala, Senhor, porque o teu servo ouve.”

E percebeu que talvez a fé seja justamente isso: não escolher mais vozes, mas aprender a discernir qual delas é realmente divina.



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sábado, 16 de agosto de 2025

Sansão e a fragilidade diante dos próprios desejos → paralelo com a autossabotagem e vícios modernos. - da Série O Homem Sentado no Banco da Igreja

 



✂️Sansão e a fragilidade diante dos próprios desejos → um paralelo com a autossabotagem e vícios modernos

Por Abilio Machado 

O homem sentado no banco da igreja hoje não está na igreja.

Está na barbearia, aguardando o barbeiro preparar a tesoura, a navalha e o pano branco que o cobrirá como um manto silencioso.

Enquanto os cabelos caem, ele se lembra de Sansão.

Sansão, o homem de força descomunal, não perdeu sua força quando cortaram seus cabelos.

A perda começou antes, quando ele entregou sua alma aos encantos da vaidade, da luxúria e das promessas fáceis de prazer.

O corte de cabelo foi apenas o símbolo externo daquilo que já havia sido diluído internamente.

A tesoura só consumou o que o coração já tinha concedido.

O homem sentado olha no espelho e se pergunta: o que tenho permitido ser cortado da minha vida?

Quantas vezes troquei minha força pela satisfação momentânea?

Quantas vezes, como Sansão, entreguei segredos íntimos a quem não merecia confiança, esperando em troca o que jamais viria?

Na barbearia, cada fio que cai no chão lembra que nossa identidade não está apenas na aparência, mas no que cultivamos por dentro.

Não é o cabelo que guarda nossa força — é a disciplina, a fidelidade, a capacidade de dizer "não" quando tudo em nós grita "sim".

Sansão falhou não por ser fraco, mas por acreditar que sua força era inabalável.

E quem acredita ser inabalável já começou a cair.

Hoje, olhando o espelho e vendo as linhas do tempo marcadas em seu rosto, o homem entende:

força não é o que mostramos para fora, é o que sustentamos por dentro quando ninguém está olhando.

E, diferentemente de Sansão, talvez ainda haja tempo de recobrar aquilo que já foi desperdiçado.



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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

O Tempo, o Desespero e Deus


O Tempo, o Desespero e Deus


Por Abilio Machado


“Sem desespero Deus é dono do tempo, e para cada um há seu próprio tempo.”


A frase traz consigo um paradoxo humano: somos seres que vivem presos ao relógio, mas o coração anseia pelo eterno. Entre a urgência das horas e a promessa da eternidade, nasce o desespero.


O tempo na experiência psicanalítica


Na psicanálise, o tempo não é apenas cronológico, mas psíquico. Freud mostrou que o inconsciente não conhece o “agora” como o relógio conhece. Traumas de infância retornam no presente como se fossem atuais; desejos antigos se repetem disfarçados em novas situações. O sujeito pode viver paralisado pelo passado ou obcecado pelo futuro, incapaz de habitar o instante presente.


É nesse hiato que o desespero surge: a angústia de não controlar o que já foi nem o que virá. A psicanálise reconhece que grande parte do sofrimento humano nasce do conflito entre o desejo de acelerar a vida e a impossibilidade de dominar seu ritmo.


O tempo na teologia


Na teologia, o tempo se divide em duas dimensões:


Chronos, o tempo cronológico, medido pelo relógio e pelo calendário.


Kairós, o tempo oportuno, qualitativo, o momento em que o divino irrompe e transforma a história.



Dizer que “Deus é dono do tempo” é reconhecer que, por trás do chronos, existe um kairós invisível que conduz a vida humana. A ansiedade que corrói o coração humano nasce da ilusão de que podemos antecipar o kairós. Porém, para cada ser há um momento que é seu, um ponto onde a graça toca a história pessoal.


Desespero: a prisão do tempo


Kierkegaard descreveu o desespero como “doença da alma”. É a incapacidade de aceitar a própria condição diante de Deus, tentando viver fora do tempo ou contra o tempo. O desesperado ou se apressa para o futuro como se quisesse ser deus de si mesmo, ou se afunda no passado como se já não houvesse esperança.


Do ponto de vista clínico, o desespero se traduz em ansiedade, depressão, impulsividade ou apatia. Do ponto de vista espiritual, ele é a recusa de confiar no tempo divino.


A cura pela integração


Quando a frase afirma “sem desespero”, sugere um caminho de integração. A psicanálise ensina a reconhecer o inconsciente que insiste em prender-nos ao passado; a teologia lembra que o futuro pertence ao Criador. Entre os dois, o sujeito aprende a habitar o presente — um presente sustentado pela confiança.


O paciente que aprende a esperar, que reconhece que sua vida tem um ritmo que não precisa imitar o ritmo do outro, encontra liberdade. E o crente que se abre ao mistério do tempo divino descansa em esperança.


Analogia final


Podemos imaginar o tempo humano como um rio. O desespero é a tentativa de nadar contra a correnteza, seja para alcançar mais rápido a foz, seja para voltar à nascente. A confiança, ao contrário, é aprender a flutuar, deixando-se conduzir, sabendo que o rio não é nosso, mas de Deus.


Assim, viver sem desespero é reconhecer que não somos donos do tempo, mas filhos dele. E que, no mistério da vida, cada um tem seu próprio tempo de nascer, amadurecer, sofrer, aprender, amar e florescer.





CRISTO EM CONFLITO



CRISTO EM CONFLITO 

Embora possamos não vê-Lo, Ele está no meio deles.

Cristo no Conflito, nasceu do desejo de lembrar que o Salvador não está preso às páginas da história ou às pinturas antigas. Ele continua a caminhar entre nós, especialmente onde a dor parece sufocar a esperança. Cada cena em aquarela O insere em cenários contemporâneos de guerra, perdas e deslocamento, mostrando-O não como um observador distante, mas como Alguém que toca, carrega, acolhe e permanece.


Ele está ao lado daquele que chora diante de uma notícia devastadora.

Ele segura a mão do soldado ferido que teme não voltar para casa.

Ele abraça a criança que perdeu tudo, menos o direito de sonhar.

Ele permanece invisível aos olhos humanos, mas não ao coração que O busca.


Do mesmo modo que caminhou com os discípulos no caminho de Emaús, Ele caminha hoje por ruas cobertas de escombros, entra nas casas destruídas pelo ódio e permanece presente nas reuniões onde decisões sobre vida e morte são tomadas. Sua missão não mudou: Ele ainda é o Bom Pastor que encontra a ovelha perdida, ainda é a Luz que nenhuma escuridão pode apagar.


Ele ainda consola.

Ele ainda levanta.

Ele ainda clama por paz.


A guerra pode destruir paredes, mas não consegue arrancar a esperança de um coração que conhece o Salvador. O mesmo Jesus que chorou sobre Jerusalém continua chorando por nossas cidades, continua buscando os que se perderam e continua trazendo um raio de luz aos lugares mais sombrios.


> “E eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.” – Mateus 28:20





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sábado, 2 de agosto de 2025

📖 Andros e a Montanha da Alegria Silenciosa

 



📖 Andros e a Montanha da Alegria Silenciosa


Era uma era sem nome, antes que os relógios contassem os dias, mas depois que as almas aprenderam a ouvir.


Em meio às planícies douradas da Terra do Oriente, havia uma montanha de pedra negra, conhecida entre os antigos apenas como Aquele Que Observa em Silêncio. Diziam que nenhum homem havia alcançado seu topo, não por falta de pernas, mas por falta de espírito.


Foi ali que o Mestre Andros Baruc conduziu seus discípulos em um rito incomum. Cada um deles vestia um manto cinza e carregava uma tocha acesa, mas o vento forte do caminho apagava uma a uma. Quando a última chama morreu, Andros parou, olhou-os com olhos ternos, e disse:


“Vós confundistes Luz com claridade, e alegria com barulho. Hoje, vos ensinarei a verdadeira alegria, que não dança na superfície, mas repousa no âmago da rocha.”


Ele então os guiou até uma caverna escura na base da montanha. No interior, encontraram uma mesa de pedra com uma inscrição antiga, que nenhum deles podia ler. Mas Andros tocou a inscrição com os dedos, e os símbolos se iluminaram, como se o próprio Verbo os reconhecesse.


Andros recitou em voz baixa, “'A verdadeira alegria é uma coisa séria.'”


Os discípulos riram, um pouco nervosos, e um deles, chamado Elion, questionou:


“Mas Mestre... como pode alegria ser coisa séria? Não é ela risos, danças, festividades?”


Andros apenas sorriu com o olhar, e respondeu:


“Vinde. Subiremos a montanha. Cada um levará consigo uma pedra.”


A subida foi longa e silenciosa. A cada passo, o vento lançava dúvidas, vozes ilusórias sussurravam tentações, lembranças do passado assombravam como sombras. Um a um, os discípulos caíram em lágrimas, não de dor física, mas de confrontar seus próprios enganos.


Quando Elion tropeçou, Andros o ergueu com firmeza e disse:


“A verdadeira alegria não sorri enquanto o mundo desaba. Ela caminha.”


Ao final do terceiro dia, apenas seis discípulos haviam alcançado o cume, exaustos, feridos, mas com os olhos profundos como os do céu noturno.


No alto da montanha, havia um altar de cristal, onde uma única chama ardia, sem vento, sem combustível, sem som. Andros os fez sentar ao redor e falou:


“Filhos da Luz, esta chama é a Alegria que nunca se apaga — porque nasce do centro da alma.”


“A alegria que buscais nos aplausos, nos banquetes, nas vitórias, morre com a primeira dor. Mas a que nasce da virtude, do dever cumprido mesmo entre as ruínas, essa nem a morte consome.”


> “Não se trata de bom humor... mas de firmeza.”


> “Não se trata de euforia... mas de propósito.”


> “Não se trata de distração... mas de presença.”


E então, Andros se levantou, ergueu as mãos para o céu e as nuvens se afastaram. Uma luz dourada desceu sobre os seis discípulos, tocando-lhes os corações como brasa viva.


Eles não riram. Mas sorriram com os olhos de quem havia renascido.


Nesse momento, compreenderam.


Compreenderam que o Iniciado é aquele que sorri diante da perda, que se levanta com a alma partida, que caminha entre os escombros sem blasfemar contra o céu e que, ainda assim, agradece.


Ao descerem da montanha, os discípulos levavam a mesma pedra que haviam trazido. Mas algo havia mudado. A pedra agora era leve.


E por onde passavam, homens os chamavam de "alegres", sem saber que aquela alegria não se explicava... se vivia.


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✦ Moral Esotérica:


A alegria que não vacila é a herança do iniciado.

Não nasce do que se ganha, mas do que se sustenta.


O mundo oferece risos que passam. O Templo Interior oferece uma chama que nunca se apaga.


A verdadeira alegria... é uma coisa séria.