sábado, 2 de agosto de 2025

📖 Andros e a Montanha da Alegria Silenciosa

 



📖 Andros e a Montanha da Alegria Silenciosa


Era uma era sem nome, antes que os relógios contassem os dias, mas depois que as almas aprenderam a ouvir.


Em meio às planícies douradas da Terra do Oriente, havia uma montanha de pedra negra, conhecida entre os antigos apenas como Aquele Que Observa em Silêncio. Diziam que nenhum homem havia alcançado seu topo, não por falta de pernas, mas por falta de espírito.


Foi ali que o Mestre Andros Baruc conduziu seus discípulos em um rito incomum. Cada um deles vestia um manto cinza e carregava uma tocha acesa, mas o vento forte do caminho apagava uma a uma. Quando a última chama morreu, Andros parou, olhou-os com olhos ternos, e disse:


“Vós confundistes Luz com claridade, e alegria com barulho. Hoje, vos ensinarei a verdadeira alegria, que não dança na superfície, mas repousa no âmago da rocha.”


Ele então os guiou até uma caverna escura na base da montanha. No interior, encontraram uma mesa de pedra com uma inscrição antiga, que nenhum deles podia ler. Mas Andros tocou a inscrição com os dedos, e os símbolos se iluminaram, como se o próprio Verbo os reconhecesse.


Andros recitou em voz baixa, “'A verdadeira alegria é uma coisa séria.'”


Os discípulos riram, um pouco nervosos, e um deles, chamado Elion, questionou:


“Mas Mestre... como pode alegria ser coisa séria? Não é ela risos, danças, festividades?”


Andros apenas sorriu com o olhar, e respondeu:


“Vinde. Subiremos a montanha. Cada um levará consigo uma pedra.”


A subida foi longa e silenciosa. A cada passo, o vento lançava dúvidas, vozes ilusórias sussurravam tentações, lembranças do passado assombravam como sombras. Um a um, os discípulos caíram em lágrimas, não de dor física, mas de confrontar seus próprios enganos.


Quando Elion tropeçou, Andros o ergueu com firmeza e disse:


“A verdadeira alegria não sorri enquanto o mundo desaba. Ela caminha.”


Ao final do terceiro dia, apenas seis discípulos haviam alcançado o cume, exaustos, feridos, mas com os olhos profundos como os do céu noturno.


No alto da montanha, havia um altar de cristal, onde uma única chama ardia, sem vento, sem combustível, sem som. Andros os fez sentar ao redor e falou:


“Filhos da Luz, esta chama é a Alegria que nunca se apaga — porque nasce do centro da alma.”


“A alegria que buscais nos aplausos, nos banquetes, nas vitórias, morre com a primeira dor. Mas a que nasce da virtude, do dever cumprido mesmo entre as ruínas, essa nem a morte consome.”


> “Não se trata de bom humor... mas de firmeza.”


> “Não se trata de euforia... mas de propósito.”


> “Não se trata de distração... mas de presença.”


E então, Andros se levantou, ergueu as mãos para o céu e as nuvens se afastaram. Uma luz dourada desceu sobre os seis discípulos, tocando-lhes os corações como brasa viva.


Eles não riram. Mas sorriram com os olhos de quem havia renascido.


Nesse momento, compreenderam.


Compreenderam que o Iniciado é aquele que sorri diante da perda, que se levanta com a alma partida, que caminha entre os escombros sem blasfemar contra o céu e que, ainda assim, agradece.


Ao descerem da montanha, os discípulos levavam a mesma pedra que haviam trazido. Mas algo havia mudado. A pedra agora era leve.


E por onde passavam, homens os chamavam de "alegres", sem saber que aquela alegria não se explicava... se vivia.


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✦ Moral Esotérica:


A alegria que não vacila é a herança do iniciado.

Não nasce do que se ganha, mas do que se sustenta.


O mundo oferece risos que passam. O Templo Interior oferece uma chama que nunca se apaga.


A verdadeira alegria... é uma coisa séria.

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