sexta-feira, 18 de abril de 2025

A Paixão Segundo o Povo Brasileiro

 Sexta-feira Santa no Brasil

Uma Sexta-feira Santa que se repete todo dia — sem as velhas túnicas, mas com togas de um judiciário manipulador e parcial, fardos e fé.

Nesta Sexta-feira Santa, me peguei pensando: e se Cristo voltasse hoje?

Não num templo, nem numa procissão — mas aqui mesmo, no Brasil de agora.

Talvez Ele não nascesse em Belém, mas num barraco de madeira no interior do Maranhão, ou numa ocupação nas bordas de São Paulo. Filho de mãe solo, criado com mais coragem do que dinheiro. Ou numa família numerosa de pai desempregado vivendo de bicos e bolsa família. Um entre tantos invisíveis.



O Getsêmani dEle seria outro: não um jardim com oliveiras, mas a fila do hospital, o ponto de ônibus escuro às 5 da manhã, o chão de fábrica. Em vez de anjos, seriam câmeras de segurança. E uma angústia que ninguém vê, mas muitos sentem. O medo de que a noite ao retornar não tenha mais luz em casa, tenha acabado o pão e as crianças chorem com fome, com frio e com vontades.


A prisão viria fácil. Um enquadro, uma abordagem mal explicada, uma denúncia sem prova. Bastaria levantar a voz no lugar errado. Talvez num 8 de janeiro qualquer. Lhe chamariam de vagabundo. De subversivo. De problema. O vídeo viralizaria. Julgado antes do fim da primeira página. Julgado até na novela das 09 do puxadinho da secom. 


O julgamento seria espetáculo. Varios Pilatos de terno lavariam as mãos em coletivas de imprensa, discursaram, fariam bravata, porém na hora do voto o fariam escondido para que bao saibam que votaram a favor dos bilhões liberados pelo apoio à outras pautas. O povo, cansado e manipulado, não mais escolheria Barrabás de novo — agora o velho sistema, o velho conchavo, o velho cinismo e que soltam Barrabás todo dia, está semana foi a vez do aclamado "quem matou Marielle Franco" onde sequer a ministra irmã da vítima se pronunciou...



A tortura, hoje, não vem com chicotes. Vem com boletos, humilhações, filas, silêncio, carteiradas do velho "sabe com quem está falando?!", ameaças como se "reclamar poderá ser multado ou ter prisão por 06 meses" . A cruz é o salário que não cobre o mês, o filho sem escola, a comida que não dá. 

A tortura vem de farda, da milícia, das facções ou de paletó.


E o Calvário? Está espalhado. Está no morro, na seca do sertão, na pele preta, nos pobres na periferia. Gente que carrega cruz sem ter pecado, tropeçando em promessas, em dívidas, em desilusão. Às vezes alguém tenta ajudar a carregar mas isso é só próximo a eleição. Às vezes não,  só julgamento, seja ele da família, da comunidade,  da igreja, do judiciário,  nada do social político espiritual.


O povo é crucificado todos os dias. Não com pregos, mas com abandono. Morre um pouco a cada notícia, a cada aumento, a cada imposto, a cada descaso.


Mas — e isso não me canso de repetir — mesmo assim, esse povo canta. Dança. Sorri. Busca sobreviver. Se junta. Luta.


O povo brasileiro é Cristo e também é ressurreição.

Todo dia é calvário.

Mas todo dia também é de resistência, de esperança que dia destes tudo muda e todos possam voltar a amar ser o que é: Brasileiro com muito orgulho e muito amor.



Sou Abilio Machado Psicoarteterapeuta.

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