domingo, 20 de abril de 2025

Não subestime os pequenos...

 


Um dia, em pleno outono, o vento uivou através da floresta como um lamento antigo. As nuvens cerraram os céus, e as folhas, em espiral frenética, pareciam sussurrar segredos esquecidos. No meio da tempestade, um corvo cruzava os campos, desafiando os ventos. Mas a natureza, impiedosa, lançou-o contra o galho seco de uma árvore antiga. Com um grito abafado, ele caiu. Sua asa — antes soberana — pendia quebrada.


Tentou levantar-se. Tentou abrir as asas. Mas a dor foi mais forte. A dor… e a solidão.


Elevou os olhos ao céu, onde os pássaros voavam indiferentes, e clamou com a voz quebrada:


— Socorro… eu não posso voar…


Uma pega, elegante e altiva, passou sobre ele. Viu, reconheceu… e zombou:


— Você, que sempre voou acima de todos nós, agora rasteja. Então, voa com o seu orgulho!


Atrás dela, outros vieram — o gaio, o pássaro dourado, o negro como noite. Nenhum parou. Nenhum estendeu uma asa. Apenas lançaram olhares gelados, como se a queda do corvo fosse merecida.


O corvo abaixou a cabeça. Ferido. Faminto. Esquecido. E a fé, aos poucos, escorria de dentro dele como sangue de uma ferida aberta.


Mas então… do silêncio entre os arbustos, uma voz pequena se ergueu:


— Eu posso te ajudar… se não temeres a minha fraqueza.


Era um pardal. Tímido. Cinzento. Invisível aos olhos da vaidade alheia. Saltitou até o corvo e, com esforço, deixou cair uma migalha de pão seco ao seu lado. Depois, trouxe uma gota d’água. Algumas folhas. Um abrigo improvisado.


— Por que estás a fazer isso…? — perguntou o corvo, incrédulo.


— Porque tu estás vivo. E porque, se eu caísse… eu também gostaria que alguém parasse por mim.


Os dias passaram. O corvo não podia voar, nem se mover. Mas o pardal não partiu. Partilhou com ele cada migalha. Contou histórias para afastar o frio. E fez do seu pequeno corpo uma chama que aquecia durante a noite.


E, quando a asa do corvo enfim se abriu, o primeiro pensamento não foi sobre os céus… mas sobre aquele pequeno ser que, sem nada exigir, lhe ofereceu tudo.


A primavera chegou. E com ela, a esperança.


Mas numa manhã, enquanto o pardal recolhia sementes, um falcão surgiu das sombras. Rápido. Letal.


Não houve tempo para nada.


Exceto… para um rugido de asas negras rasgando o céu.


O corvo, agora forte, desceu como uma tempestade viva. Abriu as asas com violência e, num golpe só, expulsou o predador.


O pardal, trêmulo, murmurou:


— Salvaste-me…


O corvo pousou ao seu lado, olhou nos olhos dele, e respondeu:


— Foste tu quem me salvou primeiro. Hoje, entendo que o valor não está no tamanho das asas… mas na grandeza do coração.


Moral:

Jamais subestime os pequenos. Às vezes, é neles que habita a coragem mais pura. A bondade que ofereces sem esperar retorno… um dia volta. E sempre no momento em que mais precisas.

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