Crônica de Abilio Machado
Era uma vez um livro aberto. Metáfora viva do pensamento humano, da conversa entre o que se vive e o que se imagina. Durante anos, foi rei da casa: disputado, relido, citado nas mesas de jantar. Tinha cheiro de papel novo, páginas marcadas com lápis, frases sublinhadas como quem sublinha o que não se quer esquecer da vida. Era o auge.
Depois vieram as telas, os ruídos curtos, a pressa. O livro, que antes era companhia diária, virou decoração. Testemunha muda do abandono. Ficou ali, firme na estante, empilhado entre memórias que ninguém mais lê.
Mas um livro nunca está só. Ele carrega vozes. E ler é entrar em contato com todas elas — com o modo como outros pensaram, sentiram, descreveram o mundo. Quem lê aprende a reconhecer sutilezas, a nomear o que sente, a pensar com mais precisão. Ler amplia o repertório da linguagem, e com ele, o repertório do pensamento. Porque só conseguimos pensar até onde conseguimos dizer.
No fundo, abandonar o livro é um pouco como calar o mundo. E calar o mundo é empobrecer a própria escuta. Quem lê entende melhor os outros. E, no processo, entende melhor a si mesmo.
Ainda há tempo. Basta abrir a capa de um livro esquecido. Porque o livro pode ter sido esquecido — mas nunca se esquece de como fazer a gente lembrar.
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Autor Abilio Machado
Títulos de Psicoarteterapia, Romances, Teatro, Poesias e Histórias Infantis.
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