quinta-feira, 17 de julho de 2025

A Síndrome do Último Banco da Igreja - a crônica numero 00 de a Série O Homem Sentadp no Banco da Igreja



Sentado no último banco da igreja, sem querer participar do culto nem das rodinhas da saída, nasceu essa reflexão. Entre o som do coral e o silêncio da alma, me vi tentando nomear essa dor que muitos de nós carregamos e chamamos de fé. Não é sobre abandono da igreja. É sobre ser igreja mesmo quando ela parece ter nos abandonado. Nomeada por mim como ...


A Síndrome do Último Banco da Igreja

O Homem Sentado no Banco da Igreja – Crônica 00

por Abilio Machado


Hoje ele se sentou lá. No último banco.

Não porque chegou atrasado. Não porque o banco estava vazio. Mas porque ele está cheio demais por dentro. Cheio de perguntas que não cabem mais nas orações decoradas. Cheio de mágoas que não cicatrizaram com abraços de corredor. Cheio de silêncios.

O último banco é um território à parte. É o deserto dentro do templo. Ali, não se canta junto com os outros — apenas se escuta, com certo cansaço e desconfiança. A liturgia parece distante. Os gritos do pregador soam como ecos, não como respostas. E os olhos? Baixos. Porque já não se quer parecer forte.

Ele não veio pelo pastor. Nem pelos irmãos. Nem pela comunhão. Ele veio por Deus — e talvez nem saiba ao certo se ainda acredita em tudo como antes, mas sabe que Deus ainda escuta o que o homem não consegue dizer.

No último banco, não se busca mais visibilidade. Aliás, foi de tanto ser invisível entre os da frente que ele se arrastou até o fim. E agora, neste banco isolado, ironicamente, ele se sente mais visto por Deus do que em todos os púlpitos e holofotes.

O último banco carrega a síndrome dos cansados da religião, dos decepcionados com o sistema, dos feridos que ainda têm fé — mas uma fé manca, meio sem força, meio sem forma. É onde se sentam os que já foram líderes, cantores, mestres — e hoje apenas tentam sobreviver à própria fé.

Alguns chamariam de esfriamento espiritual. Outros, de rebeldia. Mas não é. É crise. É aquela etapa do caminho onde o homem senta não por comodismo, mas por exaustão. Ele não quer mais performance. Quer encontro.

Talvez seja isso: o último banco é o lugar onde o homem já perdeu quase tudo… menos a esperança de que Deus ainda passe por ali e lhe estique a mão.

E se há um clamor que sobe desse banco, é este:

— "Senhor, me vê mesmo que ninguém mais veja. Me escuta mesmo que minha oração seja muda. Me abraça mesmo que eu não me levante hoje."

Porque o homem sentado no último banco da igreja não está ausente. Está em luto, um luto de si mesmo, de suas perdas íntimas, de sua angustia silenciosa, de suas lágrimas sob a água do chuveiro, de suas noites insones, de seu caminhar pelas ruas cheias de pessoas e ele anônimo, um anônimo de existir. Porém está ali, sentado, olhando para o céu, com respeito àquela casa, pois compreende e... Esse último banco não é só geográfico, é espiritual — é onde se assentam os que não cabem mais no conluio das frases prontas, dos sorrisos automáticos e das falsas promessas de pertencimento. É um lugar onde a fé já não precisa se vestir de social, onde a comunhão se dá no silêncio e onde o homem, mesmo à margem, ainda busca o centro do olhar de Deus. 

E o mais bonito: mesmo ferido, ele veio. Mesmo desconfiado, ele se faz presente na casa de Deus. Mesmo em crise, ele não desiste totalmente. Isso é fé despida, crua, autêntica.

E ora do jeito mais verdadeiro que sabe: existindo ali.

"Você já se sentiu assim? Já sentou-se no último banco da igreja por achar que não pertencia ao lugar ou que não era aceito pelos que ali estavam, que te circundavam?" comente... e compartilhe esta crônica para que mais pessoas saibam que não estão só!


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