Aos 10 anos, posso escolher mudar de sexo?
Por Abilio Machado
Sentado no banco duro de uma recepção hospitalar, vejo uma criança com o uniforme da escola, os pés balançando porque não tocam o chão. Tem um celular nas mãos e parece saber mais de redes sociais que muito adulto. Mas, será que sabe mesmo sobre si?
A pergunta tem ecoado nos debates políticos, nas mesas de jantar, nos tribunais e nas igrejas:
> “Uma criança de 10 anos tem maturidade para decidir mudar de sexo?”
Vamos respirar fundo. Antes da ideologia, da militância, da polarização. Vamos ouvir a ciência e a alma da infância.
👁️ O olhar psicológico
Aos 10 anos, o cérebro ainda está em desenvolvimento. O córtex pré-frontal — responsável por decisões, planejamento e controle de impulsos — só amadurece plenamente por volta dos 25 anos.
A identidade, nesse estágio, é um campo fértil de experimentações: gosto disso hoje, mudo amanhã; sou corajoso numa hora, tímido na outra; um dia quero ser astronauta, no outro veterinário.
Na infância, a identidade de gênero pode ser sentida, questionada, mas ainda não é um território estável o suficiente para decisões definitivas. A confusão entre expressão de gênero (como se veste, se comporta) e identidade de gênero (como se sente) é comum — inclusive entre adultos.
O papel da psicologia não é reafirmar impulsos infantis como verdades absolutas, mas acolher, explorar com cuidado, e proteger da pressa e das pressões externas — inclusive dos próprios pais, escolas ou ativismos radicais.
🏛️ A crítica sociopolítica
Transformar a experiência de uma criança em bandeira política é perigoso. A direita grita “castração de crianças”; a esquerda responde com “liberdade de identidade”. Enquanto isso, as crianças ficam no meio, às vezes instrumentalizadas por agendas que pouco se importam com seu sofrimento real.
A indústria farmacêutica, os centros de cirurgia, o mercado da transição crescem. E não se pode ignorar que há interesses por trás da suposta “urgência” de medicar e intervir precocemente.
A escola, que deveria ensinar a pensar, às vezes ensina a se rotular. Pais, perdidos entre o medo de reprimir e o medo de errar, também cedem à pressa de dar um nome ao que às vezes é só um grito de identidade: "olhem para mim! Me vejam! Me aceitem!"
Numa sociedade onde crianças mal aprendem a lidar com frustrações simples, estamos permitindo decisões irreversíveis antes mesmo de elas poderem votar, dirigir, beber, casar ou trabalhar.
🤲 O que devemos, como sociedade?
Acolher, ouvir, proteger — mas sem precipitação.
Tratar com respeito, sim. Mas com responsabilidade.
O amor verdadeiro não diz "faça o que quiser agora", mas "estarei com você enquanto você cresce e descobre quem é".
Porque quem ama, não acelera o tempo da infância.
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