🪑 O homem sentado na calçada de uma casa vazia, em frente a uma porta antiga, carcomida pelo tempo. Nas mãos, um papel rasgado em dois. Ele observa a porta como quem espera alguém voltar... ou como quem teme que ela se abra.
Jefté — O Voto Queimado no Silêncio da Porta
Por Abilio Machado
> Jefté não era o herói esperado. Era filho de uma prostituta, rejeitado pelos irmãos, expulso da casa do pai. Cresceu com o peso da exclusão e o sabor ácido da sobrevivência. Ainda assim, tornou-se líder — não por status, mas por necessidade. O povo o chamou de volta quando o desespero apertou.
Mas Jefté trazia em si uma rachadura: a vontade de ser aceito doía mais que a humilhação de ter sido expulso. E foi com essa dor que ele fez um voto impensado: "Se vencer, darei em sacrifício o que primeiro sair da porta da minha casa para me receber."
Foi sua filha.
A porta se abriu... e não foi um animal. Foi uma vida. Foi o amor. Foi o abraço que ele não poderia devolver.
O homem no banco da igreja agora está em frente a uma porta parecida. Silenciosa. Trancada. Ele não precisa de guerra — já perdeu em tempos de paz. Fez promessas que não sabia cumprir, votos que foram prisões, palavras que feriram mais que punhais.
Quantas vezes prometemos a Deus coisas que nem Ele pediu?
Quantas vezes sacrificamos o que temos de mais precioso — tempo, filhos, saúde, amor — em nome de um orgulho ferido ou de uma fé distorcida?
Jefté cumpriu o voto. Mas a Bíblia silencia sobre Deus ter aceitado o sacrifício. Talvez o silêncio divino diga mais do que a própria história.
Há portas que não deviam ser abertas, mas há votos que nunca deveriam ser feitos.
O homem sentado diante da porta sabe: certas palavras, uma vez ditas, queimam. E não há chuva que as apague.
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