Cota de Sombra: Epifania Silenciosa do Homem Sentado”
Sentado no fundo de um ônibus velho, o homem segura um livro que não lê.
O vidro embaçado lhe devolve um rosto que ele mal reconhece.
Lá fora, prédios passam. Lá dentro, os pensamentos crescem como fungos na sombra.
Sem querer, lembra de um texto. Não sabe mais se leu ou sonhou com ele.
Mas naquele instante, entre uma freada e outra, o ensaio inteiro se ergue dentro dele, como quem se cansa de morrer calado.
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A Morte em Suaves Cotas: Um Ensaio Crítico sobre o Cotidiano que Adormece, Inspirado em Martha Medeiros
"Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos..."
Durante anos, esse verso foi erroneamente atribuído ao poeta chileno Pablo Neruda, o que o alçou a um prestígio literário internacional que já lhe pertencia por méritos próprios — mas não pela caneta de Neruda, e sim pela pena afiada da brasileira Martha Medeiros. Reconhecer essa autoria é mais do que um gesto de justiça literária; é também uma oportunidade de refletir sobre como a poesia popular e reflexiva pode cruzar fronteiras, ganhar vida própria e revelar os sintomas de uma sociedade adoecida pelo automatismo.
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O Cotidiano que Mata: Psicologia da Estagnação
O texto alerta para uma forma de morrer que não envolve o fim biológico, mas a corrosão silenciosa da vitalidade. Repetir os mesmos caminhos todos os dias, sem questionar, sem renovar o olhar, é deixar de viver de fato. Psicologicamente, trata-se de um processo de repressão do impulso criativo e de negação do desejo, como apontam autores da psicologia existencial e humanista.
Na lógica neoliberal contemporânea, a repetição é muitas vezes confundida com disciplina. Mas quando não está aliada à consciência, torna-se aprisionamento. A “morte devagar” acontece quando o sujeito se reduz a um papel funcional, abdicando de sua potência criativa, de sua capacidade de se reinventar.
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A Televisão (e Agora as Telas) como Mestres Espirituais
Martha aponta com ironia: "morre lentamente quem faz da TV seu guru." Hoje, podemos estender esse verso à tirania do feed infinito, à dependência das redes sociais como fonte de validação, distração e orientação moral. O “guru eletrônico” já não é apenas a televisão, mas um algoritmo invisível que molda desejos, opiniões e até afetos.
Esse fenômeno revela uma dependência da cultura de massa que atravessa o plano psicológico e se instala como alienação. Em vez de pensar, consumimos pensamentos prontos; em vez de sentir, reagimos a estímulos fabricados. E, assim, morremos — de forma socialmente aceita, mas espiritualmente estéril.
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O Silêncio do Amor-Próprio e a Ilusão da Autossuficiência
"Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar." Essa linha toca uma das feridas mais profundas da sociedade contemporânea: o culto à autossuficiência e o tabu da vulnerabilidade. Vivemos em um tempo em que o individualismo é exaltado, mas em que as pessoas sofrem, em silêncio, pela falta de afeto, escuta e acolhimento.
Na clínica psicológica, observa-se que muitos adoecem justamente porque não sabem — ou não se permitem — pedir ajuda. A vergonha, o orgulho ou o medo da rejeição selam o sujeito em um cárcere interno. O amor-próprio, então, não é um luxo emocional, mas uma condição de sobrevivência saudável. Sem ele, qualquer crítica se torna sentença. Qualquer fracasso, uma identidade.
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Reclamar é Existir?
Outro alerta de Martha Medeiros é contra a vitimização crônica: "morre lentamente quem passa os dias reclamando do seu azar ou da chuva incessante." Aqui, ela não nega o direito à dor ou à crítica, mas chama atenção para a postura passiva diante da vida. Reclamar pode se tornar um mecanismo de defesa contra a mudança, uma forma de permanecer na zona de conforto, ainda que desconfortável.
Sob o ponto de vista sociopolítico, essa queixa permanente está associada a uma cultura de desresponsabilização emocional. Reclamamos do sistema, dos outros, das circunstâncias — mas esquecemos de nos perguntar: o que estamos dispostos a fazer para mudar? O que ainda está ao nosso alcance?
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Viver Dá Trabalho — e Isso é Maravilhoso
"Estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples fato de respirar." Essa frase não apenas fecha o poema com vigor, mas sintetiza sua proposta: a vida plena requer presença, intencionalidade e esforço consciente. Não se trata de viver sob pressão constante, mas de não sucumbir ao piloto automático.
Em tempos em que a produtividade é exaltada acima da humanidade, lembrar que viver é mais que funcionar é um ato revolucionário. É recusar a robotização emocional. É sustentar a sensibilidade num mundo que constantemente a anula.
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Uma Nota sobre a Autoria e sua Relevância
O fato de esse texto ter sido erroneamente atribuído a Pablo Neruda por tantos anos não é irrelevante. Ao contrário, ele revela como a assinatura de um nome “canônico” muitas vezes legitima um conteúdo que, por si só, já é poderoso. Esse caso nos ensina a valorizar vozes femininas, brasileiras, contemporâneas — como a de Martha Medeiros, que traduz com precisão a agonia silenciosa de uma sociedade apática e a necessidade urgente de reaprender a viver.
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Conclusão
“A Morte Devagar” é um grito sutil contra a resignação. É um manifesto íntimo, cotidiano e profundamente político. Ao recuperar o texto com sua verdadeira autoria, reconhecemos não só o talento de Martha Medeiros, mas também a força transformadora da escrita que se atreve a diagnosticar e propor cura. Que não morramos, pois, em suaves cotas. Que nos esforcemos, um pouco a cada dia, para viver com verdade.
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reflexão final:
O ônibus para.
Alguém desce. Ele não.
Mas ao invés de seguir até o ponto final, aperta o botão de parada.
Sai duas quadras antes.
Olha o céu. É o mesmo. Mas ele não é mais o mesmo.
Talvez viver seja isso: sair antes do destino costumeiro.
Só para lembrar que ainda pode escolher.
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Observação:
✅ Esclarecimento sobre a autoria:
O poema conhecido como "Morre lentamente..." ou "Muere lentamente..." não foi escrito por Pablo Neruda, apesar de sua ampla circulação na internet com esse crédito.
A verdadeira autora é a escritora e jornalista brasileira Martha Medeiros.
Esse equívoco é um dos mais famosos casos de atribuição incorreta na literatura contemporânea digital, o que levou inclusive à publicação de notas oficiais por estudiosos da obra de Neruda e veículos de imprensa.
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📚 Fontes que confirmam a verdadeira autoria:
O poema “A Morte Devagar” aparece em diversas publicações de Martha Medeiros e foi publicado originalmente em crônicas.
A Fundação Pablo Neruda (no Chile) já desmentiu publicamente a autoria atribuída erroneamente ao poeta.
A Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes e sites literários confiáveis não reconhecem esse texto na obra original de Neruda.
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Trecho típico do texto comumente circulado:
> "Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos..."
Este e outros versos do mesmo poema fazem parte do texto "A Morte Devagar", de Martha Medeiros, e não constam em nenhuma das obras publicadas de Neruda em vida ou postumamente.
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