“Constituição ou K-pop? Eis a Revolução.”
Por Abilio Machado
Bom dia, Brasil de 2025, onde o único levante que arranca o jovem da cama é quando abrem lote promocional pra pista premium do BTS. E se for com photocard incluso? Revolução armada. Mas vamos voltar um pouco.
- A molecada paulista — molecada mesmo, de bigodinho ralo e peito estufado — resolveu que estava de saco cheio do Getúlio Vargas mandar e desmandar sem nem fingir democracia. Eles queriam Constituição, queriam voto, queriam ordem — e não era do tipo “ordem e progresso” de camiseta rasgada na manifestação. Era coisa séria. Gente de 18, 19 anos, largando a faculdade, o emprego, a juventude e a segurança pra pegar em armas.
Sim, armas. Não joystick.
Eles morreram. Muitos. Se você pisar ali no Obelisco do Ibirapuera, vai ver os nomes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Gente que hoje daria bom nome de boyband, mas que naquela época virou mártir. “M.M.D.C.” não era fandom — era causa.
Agora, corta pra 2025.
O jovem de hoje? Briga, sim. Mas briga pelo wi-fi. Organiza mutirão, sim — mas pra fazer subir tag no Twitter pra novo single do Stray Kids. Grita, esperneia, chora… porque o ingresso da pré-venda esgotou em dois minutos.
Enquanto os constitucionalistas tinham trincheiras, a geração de agora tem ringue no Reddit. Enquanto em 1932 a juventude pedia Constituição, em 2025 ela pede... DLC gratuita.
E olha, não tô dizendo que tá tudo perdido. Não mesmo. A coragem mudou de roupa, só. Trocaram o fuzil pelo celular, o uniforme pelo moletom da Shein. Só que o fogo? Tá mais fraco. A chama da indignação virou LED de RGB no setup gamer.
Se M.M.D.C. existisse hoje, talvez fosse grupo no Discord. Talvez se organizassem pra hackear o sistema do Enem, não sei. Mas uma coisa é certa: eles não aceitariam passivamente.
Agora, a pergunta é: o que a juventude de hoje vai deixar no obelisco dela? Um QR code? Um NFT? Um print da guerra do BBB 39?
A geração de 32 queria mudar o país. A de agora, muitas vezes, só quer mudar de skin no Fortnite.
E cá entre nós: com o preço do ingresso de show coreano, talvez pegar em armas volte a ser uma opção. Afinal, revolução mesmo seria conseguir pagar um combo de lanche e ainda ter dinheiro pro metrô.
Feliz dia da Juventude Constitucionalista. E se forem protestar, só não esqueçam o carregador portátil. Revolução sem bateria para o celular não vinga.
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