A Coleta dos Condenados
Por Abilio Machado, um escrita observador de igrejas que batem no peito dizendo sou p caminho, então deve pagar a passagem para o reino, onde o fiel passa fome física e espiritual para que o seu líder compre jatos, trefegue de helicóptero e compre mansões e fazendas com cabeças de boi, e o pior a venda da esperança que faz doer...
Minha crônica por mais real que seja também na crítica, é um pecador que junta... Espero que goste, dê sua opinião e compartilhe...
Na vitrine reluzente da fé contemporânea, os púlpitos se tornaram palcos — e os altares, caixas registradoras. Entre luzes de LED e palmas mecânicas, ecoa um novo evangelho: “Dai, e vos será debitado.” A salvação? Que espere o Pix cair.
“Pecadores julgando pecadores por pensarem diferente.” A frase, cortante como navalha no escuro, escancara o teatro grotesco da religiosidade moderna, onde o apedrejador só precisa estar de terno e pagar o dízimo em dia para se achar juiz de almas. Nas catedrais do marketing divino, não há espaço para arrependimento genuíno — só para a hipocrisia vestida de versículo decorado.
O pastor, agora CEO da fé, ostenta gravata de seda e discurso ensaiado, metralhando promessas de bênçãos com a mesma naturalidade com que ignora o mendigo no portão do templo. E aquele fiel do banco da frente, que mal lê a Bíblia mas sabe precificar sua oferta, encara o pecador da rua com um desprezo santificado. Ele não trai a esposa — mas envenena reputações. Não rouba — mas desvia amor. Não fuma, não bebe, mas julga como quem já subiu no Monte Sinai com Deus e voltou com dez mil pedras extras no bolso.
Enquanto isso, o pecado virou grife. Uns são fashion, toleráveis; outros, malditos. O gay é pecado. O avarento milionário da igreja, visionário. A prostituta precisa de libertação. O pastor adúltero? Foi só “uma queda, irmãos”. Pecado bom é o que se pode esconder com um terno bonito, uma oração falsa e uma transferência bancária.
Já não se prega o sangue do Cordeiro. Prega-se o carnê. Já não se fala em arrependimento — fala-se em “propósito financeiro”. E se você, miserável pecador, ousa questionar essa lógica, será rotulado de rebelde, infiel, sem cobertura espiritual. Porque aqui, irmão, quem fala a verdade é do diabo. Mas quem mente com fé é promovido a diácono.
A igreja se esqueceu que Jesus sentava com ladrões e prostitutas — não para aprovar, mas para amar. Hoje, quem ama os marginalizados é herege. Quem acolhe é liberal. E quem prega a graça é “modinha”. O verdadeiro evangelho morreu engasgado no dízimo parcelado.
Mas ei — continue julgando. Julgue aquele pecador porque ele cheira a cigarro, porque ela veste saia curta, porque ele não diz “amém” no tom certo. Enquanto isso, sua alma apodrece devagar, alimentada por arrogância, nutrida de ego e lacrada no cofre do orgulho religioso.
Afinal, quem precisa de céu, se você já comprou seu cantinho VIP no inferno gospel?
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