sexta-feira, 23 de maio de 2025

__ ME BATIZEI NA IGREJA, E AGORA

 


— “Me Batizei na Igreja. E Agora?”

Por Abilio Machado,  uma ovelha tão perdida quanto você, cheio de dúvidas e esperanças. Espero que goste, curta, comente e compartilhe com aquele pesquisador ou recém converso...


Água fria no corpo todo, roupa branca, sorriso emocionado da senhora irmã que veio assistir, dos irmãos que vieram incentivar, e… pronto. Batizado feito. Saí do tanque como quem emerge de um filme bíblico: molhado, renovado, talvez um pouco tonto, e sem o medo de que o branco ficasse transparente e minhas partes secretas ficassem visíveis. Mas eis que, logo depois da toalha, vem a pergunta que ninguém faz em voz alta:

“E agora?”

Porque a água escorre, a roupa seca, e a vida continua. Mais tarde vai aparecer algum nudes na tela do PC, fecho os olhos, passo para o lado, que faço eu? Segunda-feira tem boleto. Terça tem chefe enchendo o saco. Quarta tem vontade de pecar de novo — e sem nem fazer esforço.

A verdade é que o batismo é meio como comprar um tênis de corrida: o ritual é bonito, simbólico, emocionante. Mas se você não sair da zona de conforto e colocar a sola no asfalto… parabéns, você só comprou um Nike caro pra ficar parado.

Batizar é tipo apertar “aceitar os termos e condições” numa jornada espiritual. Só que ninguém lê as letras miúdas:

– “Você vai errar de novo.”

– “Você vai sentir que não mudou nada.”

– “Você vai ter dúvidas, surtos, recaídas.”

– “Vai ter dias em que vai preferir um chope gelado do que um versículo.”

_ "No banho ao se tocar vai ter vontades de terminar o banho feliz".

E tudo bem.

Tem gente que acha que batismo é tipo reset de videogame — ficou zerado. Mas não é bem assim. É mais como uma assinatura premium do céu: te dá acesso a um caminho, mas o trajeto ainda é contigo. A conta é sua, as escolhas também.

E aí começam as questões filosóficas:

– Posso ouvir meu pagodinho de sexta sem culpa?

– E aquela fofoquinha leve, comedida, sem intenção maldosa?

– Deus perdoa se eu dormir no culto depois do almoço de domingo?

-- Senhor, me perdoa se ficar excitado ao ver aquela pessoa que tanto desejei ficar.

-- Me livra dos pensamentos intrusos,  Senhor.


Spoiler: Ele perdoa. Mas rir de si mesmo ajuda, dá certo alívio.


Batizar não é mágica. É decisão. Você ainda vai querer xingar no trânsito, fazer o famoso “só mais cinco minutinhos” quando o despertador toca pra oração da manhã. Ter seus desejos sexuais. Vai discordar de algumas coisas quando ouve e seu conhecimento não bate com o do pregador. Vai ter domingo que você não vai querer levantar nem pra ver se o céu ainda tá lá.

Mas batizar é isso: dizer “sim” mesmo sabendo que vai tropeçar. É compromisso com a tentativa. É andar com fé mesmo quando ela dá um perdido em você.

Então, se você saiu do tanque, da pia, da piscina inflável da igreja do bairro, e se perguntou “e agora?” — a resposta não tá num livro fechado. Tá na página que você escreve todo dia.

Com tinta falha, letra torta, e, às vezes, uma grande mancha de café sobre Provérbios 3:5.


E tá tudo certo. Deus lê entre as linhas.


Sou Abilio Machado,  Capelão, PG na Docência em Filosofia e Teologia e outras coisitas mais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário