Meu Partido é o Brasil
Por Abilio Machado, cidadão sem legenda, mas com memória.
Nasci em um país de cores vivas, de samba e suor, de promessas tão repetidas que perderam o brilho. Cresci ouvindo que “o Brasil é o país do futuro”, mas agora, adulto, vejo que esse futuro virou uma fila no SUS, uma sala de aula sem giz, um benefício do INSS que nunca chega. E me pergunto: será que erramos a estação? Ou nunca saímos do ponto?
Hoje, quando olho para o noticiário, não sei se estou lendo jornal ou roteiro de tragicomédia. Enquanto a saúde rasteja em corredores abafados, a educação tropeça em ideologias e verbas que evaporam. O INSS, que deveria ser alívio para quem passou a vida contribuindo, virou um labirinto onde o aposentado envelhece mais ainda tentando encontrar a saída.
E o mais curioso é que ninguém parece ser o culpado. Tudo se resolve em investigações que não dão em nada, em relatórios que somem e em escândalos que duram o tempo de um clique. O dinheiro some, mas os culpados nunca aparecem. É como se a corrupção tivesse aprendido a andar com sapatos de veludo: ninguém ouve, ninguém vê, mas sente o estrago.
Enquanto isso, há uma toga em cada esquina. Juízes que não foram eleitos agora decidem o que podemos ou não pensar, falar, votar. A justiça, que deveria ser o último refúgio do cidadão comum, virou vitrine de vaidades e palco de disputas ideológicas. Não se trata mais de aplicar a lei, mas de interpretá-la conforme o aplauso. Dela, nasceu uma ditadura fria, sem tanque, mas com caneta — e quem ousa discordar, vira alvo.
Diante disso tudo, me perguntam: “Qual é o seu partido?”
Respondo sem hesitar: Meu partido é o Brasil.
É o Brasil real, que levanta cedo e enfrenta ônibus lotado, que estuda à luz de velas quando falta energia, que chora em velórios evitáveis. É o Brasil que quer justiça sem estrelismo, saúde sem fila, educação sem doutrinação e um futuro que seja presente — e não promessa.
Não preciso de bandeira vermelha, verde, azul ou amarela. Preciso de um país onde o Estado sirva ao povo, e não ao contrário. Onde o juiz seja juiz, o político seja servidor, e o cidadão não seja tratado como suspeito por querer apenas viver com dignidade.
Se um dia este país se lembrar de sua gente antes dos seus gabinetes, então, talvez, o futuro tenha finalmente chegado.
Até lá, sigo militando no partido mais solitário e mais resistente que existe: o da esperança.
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