domingo, 18 de maio de 2025

O Pós-Venda Espiritual: Quando a Igreja Esquece a Ovelha Perdida

 O Pós-Venda Espiritual: Quando a Igreja Esquece a Ovelha Perdida

Por Abilio Machado, sou mais um cara que visitou várias placas e que tem observado, por isso fui estudar capelania e descobri a briga das placas em quem leva a palavra a quem; e então fui me especializar em Docência em Filosofia e Teologia... E continuo visitando e observando... Espero que goste da leitura, se lhe fez sentido ou não - comente, compartilhe...

A crônica: 




Se pensarmos numa igreja como uma empresa — e sim, esse é um exercício incômodo, mas revelador — logo percebemos que muitas falham onde o mercado secular já aprendeu a investir com afinco: no pós-venda. A analogia não é para reduzir o sagrado ao comercial, mas para lançar luz sobre uma falha que impacta diretamente a vivência da fé e o caminhar cristão: o abandono disfarçado de doutrina.

Igrejas investem pesado em campanhas de evangelismo. Palavras de impacto, slogans que tocam o emocional, promessas de restauração, prosperidade e cura. E sim, há ali o Evangelho, mas frequentemente embalado junto a promessas humanas — terreno incerto, sujeito a frustrações. A "venda" é feita. O fiel entra, empolgado, esperançoso, crente de que encontrou um lar, um propósito, um lugar onde será visto.

Mas o tempo passa. A realidade da caminhada com Deus se mostra menos espetacular e mais cotidiana. As promessas não se cumprem na velocidade do marketing, os problemas não desaparecem ao final de um culto. E aí, o fiel esfria. Se afasta. Silenciosamente. Sem barulho. Sem escândalo. E a igreja — a empresa — o deixa ir.

Ao invés de aplicar o que o próprio Cristo ensinou — que o bom pastor deixa as noventa e nove para ir atrás da ovelha perdida — muitos líderes optam por uma resposta padrão, embalada na mais cômoda espiritualização: “Um dia ela volta. Deus vai trazê-la.”

Isso não é fé. Isso é negligência com verniz teológico.

Se fosse uma empresa, perder um cliente fiel sem sequer um contato de retorno seria um erro estratégico gritante. O marketing não acaba quando o produto é adquirido. O pós-venda — aquele telefonema depois da compra, o e-mail perguntando como está a experiência — é o que garante a fidelização. Por que com a fé deveria ser diferente?

A resposta não está em transformar a igreja numa corporação fria, mas em resgatar o calor do cuidado pastoral. Jesus não terceirizava o afeto. Ele ia, pessoalmente. Chamava pelo nome. Tocava com as próprias mãos. E se somos corpo Dele, esse modelo precisa ser encarnado.

Falta discipulado real, aquele que acompanha a ovelha não só no altar, mas nas semanas que seguem. Falta contato, empatia, tempo. Falta líderes com cheiro de ovelha, não só voz de púlpito.

E falta também admitir que, às vezes, a promessa que vendemos para atrair não é o que conseguimos sustentar para manter. E aí, quem se frustra não é só o membro: é o Evangelho, distorcido por marketing sem cuidado.

Que possamos parar de esperar que a ovelha volte por um milagre e, ao invés disso, levantar, calçar as sandálias e ir ao encontro dela. Não com cobrança. Mas com amor.

É assim que o Reino cresce. Não por número de conversões em campanhas, mas por número de reencontros com os que foram esquecidos depois do amém.

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