“Diversidade Cultural, Essa Ilustre Desconhecida”
por Abilio Machado (ou quem restou dele)
Hoje é dia da diversidade cultural. Sim, meu caro, mais um daqueles dias internacionais que brotam do nada, como planta em vaso de casa de avó (Ia colocar de casa de Nicolle Hohohohoho): você não plantou, mas tá ali, pedindo atenção e água. A maioria das pessoas nem sabe o que diabos isso significa. E, sinceramente, quem se importa? Até ontem, você achava que diversidade cultural era nome de ONG que te aborda na rua pedindo assinatura e dez reais por mês.
Mas vamos ao que interessa. Diversidade cultural, veja bem, é aquele termo bonito que os governos adoram enfiar em discursos, geralmente entre um “educação de qualidade” e um “justiça social”, só pra preencher a lacuna de humanidade na fala. Quer um resumo? É a convivência (teórica) harmoniosa entre diferentes culturas, crenças, línguas, jeitos de dançar, de rezar, de amar e de cozinhar — porque, no fim, tudo termina no tempero. É o samba dividindo calçada com o forró, o candomblé rezando ao lado da igreja evangélica, o grafite colorindo o muro que o proprietário queria branco ou da cor que lhe couber, já que foi ele quem comprou e construiu e que o pixador jamais fará na própria casa, por que a razão é simples: _ A mãe não ia deixar.
Você vai me perguntar então: _Serve pra quê, Abilio? Serve pra fingirmos que somos tolerantes enquanto cancelamos no Twitter, Instagram e outras plataformas quem pensa diferente. Serve pra empresas botarem dançarino indígena no comercial do banco enquanto investem na grilagem de terras. Serve pra você postar foto com turbante no carnaval e achar que está homenageando a África — só a África inteira, tá? Como se fosse uma cidade com CEP, serve para a agência de publicidade fazer uma campanha multicolorida e quebrar a venda de automóveis daquela marca porque confundiu o pedido da marca de diversidade cultural com diversidade de gênero.
A verdade é que a tal diversidade cultural incomoda. Incomoda porque exige escuta, e ninguém mais escuta nada sem interromper com opinião própria embasada num vídeo de três minutos do YouTube. Exige convivência real, não aquele tipo de tolerância que termina no “desde que fiquem lá e não me atrapalhem”. Ah, e ela exige parar de achar que o seu jeitinho de ver o mundo é o modo padrão ISO 9001 de ser gente.
Hoje é dia de quê mesmo? Ah, da diversidade cultural. Mas você aí vai só dar like em algum post do governo, repetir “importante refletir sobre isso”, e seguir ouvindo a mesma playlist de sempre, rindo da piada preconceituosa do grupo de WhatsApp, e comprando incenso pra dizer que tem alma oriental e até decorar o mantra hare Khrisna.
Feliz dia, então. E que a diversidade cultural sobreviva apesar de nós e dos nós que se dão distorcendo a sua proponencua vital de se fazer existir.
Eu sou Abilio Machado e te convido a ler esta é outras crônicas neste blog e nas outras paginas blog que também estão por aí...leia, comente, compartilhe...
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