sábado, 17 de maio de 2025

O Milagre Embalado a Pix - da Serie O Homem Sentado no Banco da Igreja

 


O Milagre Embalado a Pix

Por Abilio Machado, um observador da jornada caótica da humanidade, ops, de um povo que dia a dia perde sua humanidade do que seria humanamente possível... espero que leiam, comentem e compartilhem...

Cura? Só com comprovante de pagamento.

Vivemos na era dos vendilhões digitalizados, dos curandeiros corporativos com jaleco ou batina, tanto faz, desde que saibam fazer uma boa “copy” para vender esperança em cápsulas — ou em copinhos ungidos de água da torneira. A dor virou produto, a doença, oportunidade de engajamento, e o milagre? Ah, esse agora tem frete grátis se você comprar até meia-noite.

No púlpito da fé e na timeline da pseudociência, formou-se um consórcio sórdido: pastores e charlatães de jaleco com o mesmo script — “Você está doente porque não crê o suficiente (ou não pagou o suficiente)”. A cura é promessa pendurada no anzol da culpa. Ou você deposita, ou morre. E, se morrer, a culpa foi sua. Afinal, você não teve fé.

Nas igrejas, a cena é sempre a mesma: o doente é exposto feito troféu de sofrimento, um espetáculo de aleijões, muletas e olhos marejados. “Levanta e anda!”, grita o pastor com microfone de R$ 3 mil, enquanto o fiel manca como quem ensaia um passo de teatro mudo, a platéia em transe, os bolsos em modo transferência. “Foi curado!”, berram. No dia seguinte, ele volta a mancar — mas não volta a questionar. Porque questionar é pecado, mas enganar é marketing.

Do outro lado da tela, o “Dr.” de perfil verificado, que fez um curso de seis horas no YouTube e agora jura que a vitamina D em jejum cura tudo: de câncer a pecado hereditário. O mesmo que vende suplemento em frasco com rótulo místico e voz pausada de guru, te promete 20 anos a mais de vida se você comprar a assinatura premium da sua desinformação.

São os sacerdotes do desespero. Uns de terno, outros de jaleco, todos com a mesma sacola: embalam a angústia do povo e vendem como revelação. Não importa se a doença é crônica, terminal, genética ou inventada — existe sempre um óleo, uma cápsula, uma oração em sete dias. É só pagar. Aliás, a cura é só uma consequência: o milagre mesmo é fazer gente honesta abrir a carteira por puro medo de morrer.

E quem denuncia? É “sem fé”. É “frio”. É “contra Deus” ou “a serviço da Big Pharma”. Porque nessa cruzada divina lucrativa, só há espaço pra quem cala e transfere. A dúvida virou heresia. A ciência, inimiga. A doença? Um teatro conveniente para os que vendem a salvação com recibo fiscal.

Quer ser curado? Primeiro, prove que crê. Depois, prove que tem limite no cartão. Por fim, entre na fila do milagre — mas com paciência: os planos ouro e platina têm prioridade. E se não curar? A culpa é sua. Deus não falha. O Pix, muito menos.

Afinal, no mercado da fé, quem lucra com a cura não está doente — só está com sede. De poder. De fama. 

E, claro, de dinheiro.

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