domingo, 11 de maio de 2025

O espírito do Lobo

 



O espírito do Lobo 🐺 


Havia, além dos vales ocultos e das florestas onde a luz caminha em silêncio, um vilarejo de nome Alvorâmbar, lugar de sabedoria simples e coração puro. Os campos floresciam com a paz dos humildes, e as crianças aprendiam com os ventos, os riachos e os anciões. Mas a harmonia não dura onde cresce a sombra dos homens.


De terras longínquas, vindo com as brumas púrpuras, ergueu-se um demônio sem corpo fixo, uma presença que assobiava entre os telhados e se espelhava nas águas quietas: o demônio da Vaidade e da Soberba. Seu nome era Zar-Ilhaz, e onde passava, plantava a dúvida e colhia orgulho.


Os mais sábios entre os anciões tentaram conter sua influência. Invocaram salmos antigos, rituais esquecidos, e até lágrimas derramadas com fé. Mas Zar-Ilhaz ria. Sua voz era como mil vozes — sempre elogiando, sempre exaltando, até que os homens brigassem para ver quem era o mais belo, o mais forte, o mais certo. O vilarejo começou a ruir por dentro.


Foi então que, numa noite onde a Lua se escondeu por respeito, os anciões enviaram uma pomba negra até as montanhas do Norte. Chamavam por Andros, o Caminhante da Sabedoria Oculta.

Andros ouviu o chamado enquanto meditava sob a árvore dos espinhos translúcidos e compreendeu que não bastavam espadas para aquela guerra. Era preciso verdade, coragem… e um espírito puro.


Na caverna dos ecos, Andros pronunciou o Nome Antigo: “Albah-Ra, Filho da Aurora, venha a mim.”

E das névoas se formou o mais belo dos aliados: um Lobo Branco como a neve antes do tempo. Seus olhos eram prata viva, e sua respiração exalava calma e firmeza.


— Vieste por necessidade justa, disse o lobo em voz de trovão suave.

— Vim para destruir aquilo que cega os homens e rouba a verdade do coração, respondeu Andros.


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E assim partiram. Homem e lobo. Mestre e espírito.


Chegaram ao vilarejo quando o povo já se olhava com desprezo, e ninguém mais ouvia ninguém. Havia um espelho suspenso no ar, girando como uma serpente feita de vidro, espalhando reflexos falsos — era a forma visível de Zar-Ilhaz.


— Por que vens, Andros?, rugiu a entidade. Queres ser mais sábio que todos? Queres que teus feitos ecoem acima dos outros?


Mas Andros não respondeu com palavras. Saltou sobre o Lobo Branco e apontou seu cajado para o céu. O tempo parou. O silêncio pesou como montanhas. E as palavras de poder ecoaram:


> "Quebra-se agora o espelho que mente,

Renasce o fogo no peito ardente,

Onde há soberba, que entre a verdade,

Onde há vaidade, que surja humildade."


Zar-Ilhaz se retorceu. Tentou iludir o Lobo, criando ilusões de grandeza, mas Albah-Ra é feito de verdade primal, e onde ele pisa, a mentira se dissipa. Com um uivo que varreu o céu, o Lobo Branco correu em círculos em torno do espelho demoníaco. Andros lançou sua tocha interior, feita de chama azul, no centro do redemoinho.


E então… a explosão de luz foi tão intensa que por três dias ninguém soube se era dia ou noite.


Quando a claridade cessou, o espelho estava em mil pedaços e Zar-Ilhaz dissipado como névoa diante do Sol.

O vilarejo chorava. Mas desta vez, de alegria. Os homens se abraçaram. Os espelhos foram guardados. E a humildade voltou a ser a linguagem da alma.


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E assim, Andros partiu em silêncio como chegou, montado em Albah-Ra, o Lobo Branco.

E a lenda diz que onde a vaidade ameaça florescer,

se escuta um uivo distante… e os olhos prateados da verdade brilham na noite.


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A verdadeira força não está em vencer o outro, mas em reconhecer-se como parte do todo.

E quem vence a soberba não precisa mais de espelhos, pois vê a si mesmo com os olhos do espírito.


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