O espírito do Lobo 🐺
Havia, além dos vales ocultos e das florestas onde a luz caminha em silêncio, um vilarejo de nome Alvorâmbar, lugar de sabedoria simples e coração puro. Os campos floresciam com a paz dos humildes, e as crianças aprendiam com os ventos, os riachos e os anciões. Mas a harmonia não dura onde cresce a sombra dos homens.
De terras longínquas, vindo com as brumas púrpuras, ergueu-se um demônio sem corpo fixo, uma presença que assobiava entre os telhados e se espelhava nas águas quietas: o demônio da Vaidade e da Soberba. Seu nome era Zar-Ilhaz, e onde passava, plantava a dúvida e colhia orgulho.
Os mais sábios entre os anciões tentaram conter sua influência. Invocaram salmos antigos, rituais esquecidos, e até lágrimas derramadas com fé. Mas Zar-Ilhaz ria. Sua voz era como mil vozes — sempre elogiando, sempre exaltando, até que os homens brigassem para ver quem era o mais belo, o mais forte, o mais certo. O vilarejo começou a ruir por dentro.
Foi então que, numa noite onde a Lua se escondeu por respeito, os anciões enviaram uma pomba negra até as montanhas do Norte. Chamavam por Andros, o Caminhante da Sabedoria Oculta.
Andros ouviu o chamado enquanto meditava sob a árvore dos espinhos translúcidos e compreendeu que não bastavam espadas para aquela guerra. Era preciso verdade, coragem… e um espírito puro.
Na caverna dos ecos, Andros pronunciou o Nome Antigo: “Albah-Ra, Filho da Aurora, venha a mim.”
E das névoas se formou o mais belo dos aliados: um Lobo Branco como a neve antes do tempo. Seus olhos eram prata viva, e sua respiração exalava calma e firmeza.
— Vieste por necessidade justa, disse o lobo em voz de trovão suave.
— Vim para destruir aquilo que cega os homens e rouba a verdade do coração, respondeu Andros.
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E assim partiram. Homem e lobo. Mestre e espírito.
Chegaram ao vilarejo quando o povo já se olhava com desprezo, e ninguém mais ouvia ninguém. Havia um espelho suspenso no ar, girando como uma serpente feita de vidro, espalhando reflexos falsos — era a forma visível de Zar-Ilhaz.
— Por que vens, Andros?, rugiu a entidade. Queres ser mais sábio que todos? Queres que teus feitos ecoem acima dos outros?
Mas Andros não respondeu com palavras. Saltou sobre o Lobo Branco e apontou seu cajado para o céu. O tempo parou. O silêncio pesou como montanhas. E as palavras de poder ecoaram:
> "Quebra-se agora o espelho que mente,
Renasce o fogo no peito ardente,
Onde há soberba, que entre a verdade,
Onde há vaidade, que surja humildade."
Zar-Ilhaz se retorceu. Tentou iludir o Lobo, criando ilusões de grandeza, mas Albah-Ra é feito de verdade primal, e onde ele pisa, a mentira se dissipa. Com um uivo que varreu o céu, o Lobo Branco correu em círculos em torno do espelho demoníaco. Andros lançou sua tocha interior, feita de chama azul, no centro do redemoinho.
E então… a explosão de luz foi tão intensa que por três dias ninguém soube se era dia ou noite.
Quando a claridade cessou, o espelho estava em mil pedaços e Zar-Ilhaz dissipado como névoa diante do Sol.
O vilarejo chorava. Mas desta vez, de alegria. Os homens se abraçaram. Os espelhos foram guardados. E a humildade voltou a ser a linguagem da alma.
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E assim, Andros partiu em silêncio como chegou, montado em Albah-Ra, o Lobo Branco.
E a lenda diz que onde a vaidade ameaça florescer,
se escuta um uivo distante… e os olhos prateados da verdade brilham na noite.
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A verdadeira força não está em vencer o outro, mas em reconhecer-se como parte do todo.
E quem vence a soberba não precisa mais de espelhos, pois vê a si mesmo com os olhos do espírito.
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