Ah, então vamos a mais uma crônica da série "O HOMEM NO BANCO DA IGREJA", escrita não no deserto, mas do trono mais democrático do lar moderno: o vaso sanitário. O Éden pode ter perdido o glamour, mas a revelação continua descendo — literalmente — de dentro pra fora. Vamos fazer dessa descarga neste ritual, já tem alguns textos anteriores que pertencem a esta série anteriores, críticos, mordazes, questionadores e meus pensamentos...Se caso lhe fizer sentido, comente e compartilhe...
“No Princípio, Era o Silêncio”
Não havia culto. Não havia templo. Nem pastor, nem coral, nem mesmo a velha irmã que ora em línguas e depois cochila com dignidade no banco da frente. No princípio, antes de tudo, havia só... silêncio.
Silêncio bruto. Ancestral. Quase assustador.
E no meio desse nada sonoro, Deus falou. Sim, não criou nada com martelo nem pincel. Ele disse. Um verbo. Uma ordem. Uma palavra despencada do peito do invisível.
“Haja luz.”
E houve.
O homem no banco da igreja (ou, no meu caso, agora bem literal, assumo, no trono de porcelana) me pergunta se essa mesma voz ainda ecoa. Porque o mundo hoje é barulhento. Tem buzina, notificação, campanha eleitoral, Big Brother, grupo da família no WhatsApp com áudio de alguém dos grupos que pertenço explicando por que vacina é do capeta, porque ser de um lado é ser do bem e do outro nem tanto.
Mas cadê Deus? Ele ainda fala?
Ou será que estamos surdos demais?
Porque, se a criação começou com o som da voz divina, talvez a recriação da nossa vida também comece assim: com escuta. Com silêncio. Com espaço vazio dentro da Alma.
Mas a gente não sabe mais ficar em silêncio da maneira certa, pois até no banco da igreja abrimos o celular para ver os últimos posts que enviaram com aquela piada narcisista. Dá até alergia. É por isso que entra no Instagram no culto, escuta o sermão com uma aba de joguinho aberto, e como tenho observado a babá smartphone nas mãos das crianças e adolescentes. No banheiro, se não tem celular, a pessoa lê até rótulo de shampoo e questiona será que éesse produto que está fazendo cair meus cabelos ou que está provocando a candidíase de repetição.
No fundo, temos medo do silêncio porque sabemos que ali... Ele pode falar.
E se Ele falar, muda tudo.
Imagina se Ele diz: “Pare com isso.” Ou pior: “Volte.” Ou, o mais assustador de todos: “Você já sabe o que precisa fazer, vai.”
Aí complica. Porque a voz de Deus não é dessas que massageia o ego. Ela sacode. Sacraliza. Desinstala a gente do conforto. Dá a chacoalhada necessária para que haja ação.
No princípio, era o silêncio.
E hoje? O homem no banco da igreja fecha os olhos. O coral terminou. A banda parou. O pastor se cala. O testemunho passou uma ar despretensioso, gerando mais dúvidas ainda. Perguntas emergem, a aura do irmão ou da irmã no púlpito viajava entre a verdade e a desculpa, uma desculpa de procura de autoafirmação da própria fé e existência. E por um instante, entre um suspiro cansado e a luz que entra pela fresta da janela... o silêncio volta.
Talvez seja o começo de tudo de novo.
Porque Deus ainda fala. Mas só pra quem cala primeiro e se coloca aberto swm questionamentos a ouvi-Lo.
(Sinto-me livre para dar descarga agora. Mas com reverência. Pois, acabei de nascer de novo — um pouquinho. Com os pensamentos já imaginando qual será a próxima crônica, onde a escreverei? Aqui novamenteneste silêncio obrigatório do vaso sanitário, no banco da praça ou do calçadão da rua XV, ou da praça sagrado coração ou da GetúlioVargas, nas mesinhas ou na sala de espera do hospitaldeclínicas-ufpr, não sei, só tenho certeza que assunto é questionamentosm não faltam para escrever, colocar para hora as autointerlocuções que faço a mim mesmo quanto a ser #OHomemSentadonoBancodaIgreja)
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