quinta-feira, 1 de maio de 2025

Curriculo d'um trabalhador...Dia do Trabalho 1° de Maio

 


 “Currículo d'um trabalhador”

Ja acordei com o pensamento de hoje é aniversário da Reni e do Rodolfo... Não posso esquecer.

Era primeiro de maio, e o despertador tocou às 4h30 da manhã. Horário que desperta para que eu possa chegar até a upa para pegar a Van que me leva a consultas e exames já na rotina de alguns anos...

Ironia do destino: feriado do Dia do Trabalho, mas o sono ainda parecia expediente. Levantei-me como quem carimba o ponto da própria existência — devagar, reclamando, e com uma leve esperança de café, a mente ainda pensa café,  porém não o consumo mais.

Lá fora, silêncio. As ruas vazias e preguiçosas pareciam comemorar a data com mais convicção do que eu. Na televisão, uma reportagem falava sobre a origem do feriado: operários de Chicago, em 1886, lutando por jornada de oito horas. Pensei: Se eles vissem os currículos de hoje exigindo inglês fluente, pós-graduação e saber fazer café gourmet, se desdobrar em mil funções e só receber por uma, iam pedir as horas de volta.

Mas a história me pegou. Havia uma poesia bruta naquele passado de greves e cartazes, de gente cansada que resolveu dizer “chega!”. Gente que sabia que trabalho não é só ganhar pão — é dignidade, é identidade. Só que hoje, parece que a identidade precisa de senha, biometria, e um perfil no LinkedIn com foto tirada em fundo neutro, além de cada agência de emprego fazer cadastro para que vendam seus dados a empresas de marketing,  bancos e outros.

Enquanto mastigava uma torrada com manteiga (à moda dos proletários românticos), lembrei da Dona Ilda, vizinha do 402, aposentada há uns 15 anos, que ainda acorda às 5h30 para “não perder o costume”. Diz que o corpo dela já está treinado, igual relógio. Um relógio meio avariado, que esquece onde guardou os óculos, mas que ainda se emociona ao ver alguém indo trabalhar de uniforme.

Já eu, aprisionado no auxilio doença, doencas que me impedem de tantos afazeres, meu currículo com graduacao e várias pós e especializações, não trabalho, e sim , dou trabalho a condutores da van da saúde, a recepcionistas,  a enfermeiros e médicos. 

Um amiga confidencia,  em um dos meus atendimentos de psicoterapia que vez ou outra faço para não perder o tato clínico, diz que entre uma planilha e outra, anda pensando em pedir demissão do burnout. Tem dias em que o home office mais parece o work prison, e o café que era símbolo de produtividade virou um ritual de resistência e lágrimas na hora da compra dado o valor absurdo que está junto a outros produtos de alimentos,  do básico,  do transporte e da farmácia.

Mas aí me lembrei do Zé — meu amigo que faz trabalhos de impressos gráficos, como motorista de aplicativo e ainda encontra tempo pra estudar à noite,  além de cuidar de seus três filhos amados por ele, porém rejeitados pela mãe e que vez e outra busca azucrinar sua vida já tão cheia, ela resolve jogar uma pimentinha. Outro dia, ele me disse:
— "Rapaz, eu não quero ficar rico. Só quero dormir sem dívidas e acordar com esperança."
E riu, como quem já sabe que esperança não paga boletos, mas atrasa menos que o salário e por isso corro atrás.



Talvez seja isso o espírito do Dia do Trabalho hoje: continuar tentando, mesmo cansado. Celebrar não só o emprego, mas o esforço. Rir das burocracias, dos chefes motivacionais, dos cursos de “proatividade assertiva com empatia disruptiva”, e seguir em frente. Às vezes a gente trabalha mais por fé do que por folha de pagamento. 

Sem falar de um grupo de políticos que querem mudar os dias de trabalho 6x1 como se tal mudança não vá afetar o setor de emprego, produtivo e econômico. 

E num dia acorda com a noticia que a muito roubam os aposentados e pensionistas do inss e que daqui a poucos anos pode até ser que não mais consiga se aposentar mesmo que a um salário mínimo. Além de mínimo é de si roubado! Valores , direitos e dignidade!

No fim do dia, resolvi escrever um bilhete simbólico, dobrar em três partes e deixar debaixo do travesseiro.
“Prezado Senhor Jesus, segue meu currículo de tentativas. Ainda não desisti. Ainda acredito no valor do suor, mesmo quando ele vem junto com lágrimas. Peço apenas saúde, força e — se não for muito — um vale-almoço eterno que nunca expire.”

Feriado ou não, amanhã tem mais. Porque a vida não nos dá ponto facultativo para sonhar, ah dá folguinha sim mas apenas a funcionário público.

 Currículo d'um trabalhador

Poetha Abilio Machado 

14h40

#Crônica #diadotrabalho #diárias 

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