quinta-feira, 26 de junho de 2025

 JESUS NÃO TEM DENTES, NO PAÍS DOS BANGUELAS - da série O Homem Sentado no Banco da Igreja



Hoje ele,  o homem, estaria logo mais sentado na cadeira da dentista, estava agora na sala de espera.

As paredes estavam muito bem pintadas, o ambiente é acolhedor, tem água filtrada e uma TV que como toda instituição está ligada na globo, se não fossem os hospitais e instituições governamentais a globo já teria falido. Ele não veio ali por vaidade — veio por dor. Uma prótese quebrada há meses começou a fazer doer a gengiva e os poucos dentes que lhe sobraram. Mas enquanto aguardava, com a cabeça meio baixa e os pensamentos meio soltos, veio a lembrança de uma frase lida numa pichação no muro da esquina d'uma igreja:

"JESUS NÃO TEM DENTES, NO PAÍS DOS BANGUELAS."

Por Abilio Machado 


Um ensaio sobre o sagrado domesticado e a fé desdentada


Vivemos num país onde a imagem de Jesus é carregada nas costas, pendurada no retrovisor, exaltada nos púlpitos e tatuada nas peles — mas raramente encarnada nas práticas. Um país de banguelas: desprovidos de acesso, de direitos, de dentes. E nesse cenário, a figura do Cristo parece ter sido moldada à semelhança do povo — não em solidariedade, mas em impotência. Um Jesus banguela, que não morde as injustiças, não mastiga as estruturas de opressão, e se resigna a sorrir com gengivas expostas, num gesto de esperança fraturada.


A metáfora é dura, mas necessária.


Quando dizemos que Jesus não tem dentes, não falamos da biologia do divino, mas do esvaziamento da força profética da fé. A fé que uma vez invadiu templos, virou mesas e enfrentou fariseus, agora se ajoelha diante dos poderosos, pedindo permissão para existir — e, mais grave ainda, pedindo bênçãos para seus próprios algozes. O Cristo que dizia "Ai de vós, ricos!" agora é invocado para justificar acúmulo. O que dizia "Tive fome e me deste de comer" hoje é usado por igrejas que vendem jantares simbólicos a preço de sacrifício.

E o povo — o país dos banguelas — mastiga com dificuldade o evangelho-purê, sem fibras, sem dentes, sem resistência. Uma teologia de micro-ondas, rápida, plástica, anestesiante. Mastigamos palavras doces, sem nutrição, enquanto engolimos a realidade amarga de um mundo desigual.


A igreja domesticou Jesus.


Não o da cruz, mas o das campanhas. Um Jesus desdentado é mais fácil de carregar. Não morde, não exige, não confronta. É só um símbolo, um colar, uma frase de impacto no Instagram. Ele sorri, mas não fala. Ele abraça, mas não transforma. Um ídolo silencioso e gengival, que faz companhia, mas não provoca mudanças.

E no país dos banguelas, onde o povo já não tem forças para morder, Jesus também não tem. Está com eles, sim, mas não acima, não à frente. Está resignado, desfigurado, empobrecido não apenas no rosto, mas na proposta.

Talvez um anjo disfarçado — diria a Jesus:

 “O problema, Mestre, é que Seus dentes não foram arrancados por acidente. Foi a religião que os arrancou… pra que o Senhor não morda mais nada.”

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Onde estão os dentes da fé?


Os dentes da fé são a coragem. A capacidade de mastigar o que é duro, de triturar o sistema que engole os pequenos. Os dentes são a ética, a justiça, a denúncia. São os profetas que não fazem média com reis. São os discípulos que não vendem milagres em troca de dízimo.

O que este país precisa não é de um novo Jesus, mas de redescobrir os dentes do Evangelho. Aquele que arranca a mordaça da religião domesticada e permite que a boca da fé volte a gritar: "Não é esse o jejum que escolhi? Soltar as ligaduras da impiedade, desfazer as ataduras da servidão, pôr em liberdade os oprimidos?"


E claro mais profissionais como Dra Su Ellen.


Nesse consultório específico, Jesus talvez encontrasse consolo — pois ali, quem cuida da dor do homem é a Dra. Su Ellen Javorski, uma profissional de mãos cuidadosas, que não apenas limpa os seus poucos dentes, arruma suas próteses, mas devolve dignidade.

Ela entende que, mesmo dentes, naturais e artificiais, quando bem cuidados, permitem que a boca da vida continue a mastigar o que importa.

Ela não prega sermões — mas aplica compaixão com anestesia e acolhimento. 

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No país dos banguelas, o povo precisa de um Jesus que não tenha apenas compaixão, mas que tenha também dentes — porque há muito o que morder: as injustiças, os silêncios cúmplices, os altares dourados que ignoram as favelas.


E talvez, só talvez, ainda reste uma prótese de coragem escondida sob o travesseiro da fé. Basta que alguém — um homem no banco da igreja, um indigente na calçada, uma voz que se ergue — ouse colocá-la de volta e sorrir com dentes de verdade.

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Naquele dia, o homem não saiu com a dor toda curada.

Mas saiu com outra certeza:

É tempo de parar de sorrir sem dentes.

É tempo de tirar a prótese da hipocrisia e colocar de volta os dentes da fé verdadeira — os que roem as amarras da mentira, da miséria e da religião cúmplice do poder.


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