quarta-feira, 18 de junho de 2025

Corpus Christi: Tapetes que Enfeitam o Vazio... da série O Homem Sentado no Banco da Igreja...

O homem está sentado na calçada de paralelepípedos de uma rua histórica, veio cedinho ver os grupos fazendo sua parte no comprido tapete... E observando os fiéis que começam a surgir de todos os lados passando sobre os tapetes de serragem, feitos com esmero. Antes da procissão as fotos para as redes sociais. Ele está ali, descalço. Não por fé, mas por cansaço. Ele não veio para desfilar. Veio para observar a tradição e pensar.




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Corpus Christi: Tapetes que Enfeitam o Vazio

Por Abilio Machado 


Todo ano, o mesmo ritual:

os fiéis amanhecem nas ruas para fazer tapetes coloridos. 

Ele lembra já participou nos tempos de juventude marial vicentina... 

Cores vibrantes.

Formas religiosas.

Cristos, cálices, pães e uvas em serragem perfumada.

Mais tarde outras imagens foram acrescentadas, algumas de cunho sociais e outras apenas para que seu espaço reservado seja mais bonito que do outro movimento ou pastoral...


É bonito.

É simbólico.

É tradição.


Mas o homem sentado pensa:

quando foi que a fé passou a depender tanto da estética?


A festa de Corpus Christi nasceu no século XIII,

quando uma freira belga, Juliana de Cornillon, da ordem agostiniana,

que vivia no convento de Mont Cornillon, em Liège,

teve uma visão de uma lua cheia com uma mancha escura —

símbolo de que faltava algo na vida espiritual da Igreja.


Essa “mancha” era a ausência de uma festa dedicada exclusivamente à Eucaristia.

Juliana, em seus êxtases, dizia que o corpo de Cristo precisava ser celebrado não só na dor da Quinta-feira Santa,

mas também na glória do sacramento.


Sua visão foi desacreditada por muitos.

Mas um de seus defensores se tornaria Papa:

Urbano IV,

que oficializou a solenidade em 1264.


E então vieram os tapetes. Lindos e criativos...


Sinalizam o caminho por onde Cristo vai passar — mas o homem no banco se pergunta:

Cristo ainda quer passar por esses caminhos?


Pelo simples fato de que hoje, o corpo de Cristo é outro.


É o pobre que a igreja rejeita.


É a mulher que sofre abuso dentro da instituição.


É o jovem que busca sentido e recebe slogans.


É o doente que recebe orações em vez de apoio real.


É o marginalizado que não cabe no tapete limpo da procissão.


Será que o Corpo de Cristo se reconheceria nessa celebração?

Ou se esconderia nas sombras das sacristias, envergonhado da pompa feita em Seu nome?


O homem na calçada assiste em silêncio.

As pessoas passam, rezam, tiram fotos.

E ele se pergunta:

quantos aqui sabem o que estão celebrando?

Quantos vieram por devoção?

Quantos por hábito?

Quantos por medo de perder pontos com Deus?


Corpus Christi significa “Corpo de Cristo”.

Mas nos acostumamos a um Cristo desencarnado, litúrgico, decorativo.

O Corpo virou símbolo.

Virou objeto de manipulação.

Virou marca institucional.


Enquanto isso, o verdadeiro Cristo…

Ainda caminha descalço entre os cacos da humanidade, esperando que alguém O veja fora dos tapetes.

Você consegue enxergá-LO ?!


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Historicidade:


🕊️ Santa Juliana de Cornillon (também conhecida como Juliana de Liège)


Informações principais:


Nome: Juliana de Cornillon

Nascimento: Cerca de 1192

Local: Região de Liège, atual Bélgica

Ordem religiosa: Agostiniana, pertencente ao convento de Mont Cornillon, nos arredores de Liège

Vida: Era órfã e foi educada por freiras agostinianas. Tornou-se monja e, mais tarde, prioresa do convento.


A visão:


Juliana teve visões místicas que a marcaram por toda a vida.

A mais famosa delas foi a de uma lua cheia com uma mancha escura, que ela interpretou como um sinal da ausência de uma celebração específica dedicada ao Santíssimo Sacramento (o corpo e o sangue de Cristo).

Ela acreditava — e ensinava — que o amor eucarístico merecia uma solenidade própria, além da Quinta-feira Santa, que era marcada pela dor e pelo luto.


Influência:


A ideia encontrou resistência inicialmente, mas ganhou força com o apoio de teólogos e clérigos locais, incluindo Jacques Pantaléon, que anos mais tarde se tornaria o Papa Urbano IV.

Em 1264, Urbano IV instituiu oficialmente a festa de Corpus Christi para toda a Igreja Católica, por meio da bula Transiturus de hoc mundo.


Curiosidade:


A cidade de Liège comemorava Corpus Christi antes mesmo da oficialização papal, tornando-se o berço histórico da celebração.


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