Sentei hoje na cadeira da sala de espera, aquele lugar que me acolhe como confessor sem rosto, e me pus a observar o vai e vem das pessoas pelo corredor. Tantas cabeças abaixadas nas telas, tantos olhos buscando algo fora de si. E pensei: por que precisamos tanto ver para crer? Por que aquilo que é profundo e invisível incomoda tanto?
Bezerros, Vitrines e Profetas Desacreditados
O homem no banco da igreja, como muitos, já precisou de algo visível para manter a fé de pé.
Um sinal.
Um pregador ungido.
Uma imagem inspiradora.
Uma resposta palpável, audível, mensurável.
A fé que não se vê dá vertigem.
E foi assim também com os antigos.
Moisés sobe o monte e demora um pouco mais que o previsto.
O povo não suporta a espera.
Transformam brincos em ídolo.
O invisível é incômodo demais. O visível, por mais grotesco, oferece consolo imediato.
É estranho, mas atual.
Hoje o bezerro de ouro tem outras formas.
-
Um culto com estética de show.
-
Um líder carismático que fala como se fosse Deus.
-
Um milagre em live, patrocinado e com QR Code.
-
Uma doutrina que responde tudo, mas não questiona nada.
A idolatria não morreu. Apenas se sofisticou.
E quando surge alguém simples, de fala sincera, mas sem “glamour espiritual”, o povo desdenha.
— “Esse? Mas eu conheço desde menino…”
— “Ele era um zé-ninguém. Agora vem falar de Deus?”
Jesus sabia bem o que era isso.
Não pôde operar muitos milagres em Nazaré.
Na sua própria casa, foi desacreditado.
Por quê?
Porque a intimidade assusta quando ela contradiz o orgulho.
É mais fácil crer em quem vem de longe.
Em quem você não conhece as quedas, nem os bastidores.
O profeta da casa causa incômodo porque ele mostra que a revelação pode brotar de onde você menos espera.
Mas Deus não precisa de vitrine.
Ele fala do monte, sim, mas também da caverna.
Do púlpito, mas também do banheiro.
Do templo, mas também do banco da praça.
O homem no banco da igreja suspira.
Talvez já tenha sido um bezerro para alguém.
Talvez já tenha rejeitado algum profeta só por conhecer seu RG.
Agora, ele fecha os olhos.
Porque percebe que a fé que não se vê é a única que pode nos ver por dentro.
E Deus... continua falando.
Mesmo sem holofote.
Mesmo sem curtidas.
#OHomemNoBancoDaIgreja #CrônicasDaAlma #FéQueNãoSeVê #ProfetasDesacreditados #EspiritualidadeReal #BezerrosModernos #QuestionamentosDaFé #ReflexãoEspiritual #IdolatriaContemporânea #DeusNoSilêncio #CrônicasReflexivas #VitrineReligiosa #EspiritualidadeAutêntica #TextosDaAlma #EntreOVisívelEAFé
Nenhum comentário:
Postar um comentário