Sentado neste banco de pracinha do Hospital de Clínicas vendo o povo passar, minha mente divagou: e se nosso bezerro de ouro hoje tiver um CPF, um perfil verificado e um plano de dados?
Escrita ao som da fonte da chuva e das vozes que ainda tentam entender onde está Deus quando Ele demora. Se ressoar com você, compartilhe — ou pelo menos repense o altar onde você tem dançado.
Respiremos fundo — o cheiro de ouro derretido ainda paira no ar.
A fumaça do bezerro não é só do passado. Hoje, enquanto o líder sobe a montanha (seja ela espiritual, terapêutica ou moral), o povo desce para as pressas da ansiedade, se rendem a mentiras e à luxúria.
E assim nasce mais uma crônica da série "O HOMEM NO BANCO DA IGREJA":
O Bezerro de Ouro: O Deus que demora e os ídolos que correm
Por Abilio Machado
Aqui estou, sentado neste banco (não mais de igreja, mas de praçinha do Hospital de Clínicas), vendo as pessoas passarem apressadas a se esconderemda chuva e do vento... umas com sacolas, outras com pressa, algumas com olhos cansados — e me pergunto: por que ainda somos tão apressados para adorar?
Moisés demorou.
Foi subir a montanha buscar direção.
E o povo?
Cansou de esperar.
Preferiu fabricar seu próprio deus.
Feito de ouro.
Modelado com as sobras do que tinham e daquilo que desejavam exibir.
Hoje... nada mudou.
Mudou nada...
O ouro virou outra coisa.
Agora são os números da conta, a cor do cartão, o linite na conta, o suores bancário, os likes no post, a estética da pele esticada, a simetria do corpo, coach, youtubers, os seguidores da alma.
E enquanto Deus ainda sobe em silêncio, preferimos os ídolos que descem com notificações e entregam dopamina, recheados com sertralina e clonazepan.
A ansiedade de Israel era a mesma de hoje:
“Onde está Deus?”
Se não me responde em 10 minutos, cancelo.
Se não age segundo minha agenda, abandono.
Se não atende meu pedido com eficiência logística, crio outro deus — mais imediato, mais visual, mais no meu controle. Vivendo num ambiente de tolerância zero.
A criação do bezerro não foi só um ato de rebeldia.
Foi uma reação ao silêncio.
E como lidamos mal com o silêncio...
Fazemos barulho com nossos próprios deuses:
os gurus da internet,
as certezas enlatadas,
os falsos profetas do consumo,
Os líderes religiosos que repetem insistentemente que você sofre porque merece,
Que você é doente por falta de fé, que te fala que pode lhe dar revelações a partir de um pix imediato...
e até nós mesmos — sim, somos nossos ídolos favoritos.
Queremos o divino, mas sem demora.
Queremos o eterno, mas com prazo de entrega.
Queremos a fé, mas com provas — não de fogo, mas somos vencidos e acreditamos no PIX pela benção.
E assim, viramos adoradores do imediato.
Do que brilha.
Do que se mostra.
Do que se molda às nossas pressas.
Da fé que se adapta...
Mas quando Moisés voltou com as tábuas…
as pessoas já estavam dançando em volta de um deus que não fala.
E hoje, será que estamos dançando também?
Dançamos junto com outros dançantes sob músicas dúbias no tik tolerância, na vã ideia de se tornar viral... E gritar: _Receba!
Será que nosso bezerro moderno não são os filtros que usamos, os títulos que ostentamos, as vozes que seguimos sem testar os frutos pois não desejamos esperar que a semente germina...
Deus ainda está escrevendo na rocha.
Mas a maioria só quer o que aparece no feed.
Como no crescer de seguidores...
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