Na mesinha da lanchonete, almoçando as 15h50, estou aqui, comi 2 panquecas e salada, o cheiro da comida persiste neste tempo que parece não passar, percebo que muitos vivem um presente com sabor de maná, mas sonham com o passado como se ele fosse banquete. Mais uma crônica da série "O HOMEM NO BANCO DA IGREJA", escrita entre mordidas na memória e goles de presente. Se lhe fizer sentido, compartilhe — e pense bem antes de trocar o céu pelo prato que a escravidão servia.
Então, vamos juntos a mais uma travessia pelo deserto da alma.
O banco da igreja pode até ranger, mas a reflexão segue firme no passo lento dos que caminham entre a fé e a memória.
O Maná e as Cebolas do Egito: Quando o passado parece melhor que a liberdade
Por Abilio Machado
Hoje, estou sentado neste canto da lanchonetevdo Reginaldo, é um lugar para comer e desses onde o corpo repousa, mas a mente não para. Poderia ser um banco de praça, privada ou ponto de ônibus — não importa. Aqui, entre pensamentos e suspiros, recordei a murmuração mais famosa do Antigo Testamento: “Ah, se tivéssemos morrido no Egito! Lá ao menos havia cebolas…”
Parece cômico, né?
Trocar o maná divino — aquele alimento misterioso, fresco a cada manhã — por cebolas, alho-poró e peixe de cativeiro.
Mas é isso que fazemos... o tempo todo.
A nostalgia é uma feiticeira disfarçada de conforto.
Ela nos convence de que o passado era melhor simplesmente porque já o conhecemos.
E como sempre desejamos essa troca, hoje ouço amigos clamarem que o passado era melhor que o agora — esse desejo constante de troca, esse saudosismo por um passado idealizado, é em essência a metáfora das cebolas do Egito. É o dilema entre o maná do presente (essencial, mas sem glamour) e as cebolas do passado (cheias de sabor, mas com o gosto da escravidão, sem a tecnologia, conhecimento, medicamentos e outras soluções).
Vimos este reflexo nas eleições de 22, a grande maioria resolveu voltar às cebolas...
O futuro dá medo.
O presente é insosso.
Então, idealizamos o Egito.
O Egito — esse lugar que chicoteava, humilhava, explorava — de repente vira referência de estabilidade.
E o deserto, lugar de provisão divina e liberdade, vira sinônimo de escassez e insegurança.
Hoje, muitos de nós continuam pedindo cebolas.
O maná do agora é o essencial que não tem gosto.
É o arroz com feijão da existência.
É o amor que não vem em pacotes de presente.
É o cuidado silencioso de Deus nas pequenas coisas.
Mas o povo quer é o sabor picante do que já foi, mesmo que tenha sido prisão, mesmo que tenha ocorrido sofrimento, ao bom estilo da síndrome de Estocolmo.
A geração que atravessou o Mar Vermelho queria o menu antigo,
com cheiro de cebola e gosto de passado.
A geração de hoje?
Quer o cheiro do VHS da infância,
Fita cassete,
a volta dos anos 80, 90,
os preços de antigamente,
o romantismo dos relacionamentos sem WhatsApp,
e, claro, a igreja com "aquele pastor antigo que sabia falar bonito, o padre que dava sermões morais fortes, mesmo sabendo o que faziam às escondidas".
Mas o problema não é a cebola.
É esquecer que ela vinha com correntes, baras de marmelo, chinelas havaianas, com bullying na escola, com falta de comida.
Por que temos tanta dificuldade em celebrar o maná de hoje?
Porque ele exige fé.
Ele não se acumula.
Não dá para estocar.
É preciso confiar que amanhã haverá mais.
E fé cansa.
Cansa porque é exercício de presença, não de memória.
O homem no banco da igreja de hoje murmura como o povo do deserto.
Ele tem o pão, mas quer tempero.
Tem liberdade, mas sente falta do patrão que lhe dizia o que fazer.
Tem a chance de construir uma terra prometida, mas prefere o script do passado.
"Queremos o novo, desde que tenha gosto de cebola velha."
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