Hoje, o homem está sentado no meio-fio de uma estrada de terra batida. Ao longe, plantações de milho crescem em fileiras organizadas, uma fileira de postes de madeira e arame farpado margem aquela estrada, marcando a terra como propriedade de alguém. Ele segura um punhado de barro seco entre os dedos e observa: “Promessa cumprida ou posse ilusória? Terra dada… ou terra tomada?” E sua mente volta àquela antiga história: o povo entrando na terra prometida e começando a dividi-la.
Dividir a Terra, Perder a Alma ?
Por Abilio Machado
Após a queda de Jericó, o povo de Israel não encontra descanso — encontra terra. Mas terra é mais do que solo. Terra é disputa, é desejo, é símbolo de promessa, mas também de poder. Quando começa a partilha entre as tribos, brotam também os ressentimentos, os privilégios, as exceções, as injustiças silenciosas.
A terra prometida se transforma, rapidamente, em um novo cenário de velhos hábitos. Cada tribo buscando garantir o melhor pedaço, cada grupo querendo demarcar fronteiras. O "nós" do deserto vira o "meu" da planície. E o ideal comunitário de uma terra de justiça dá lugar ao nascimento de microimpérios.
Não é assim hoje também?
Vivemos a era da "partilha dos espaços" — o condomínio fechado, a cerca elétrica, o loteamento da fé, o território ideológico. Cada um marcando sua área, defendendo seu quinhão com discursos de direito e meritocracia. O outro vira ameaça. A terra vira trincheira.
Na política, os que chegaram primeiro criam leis que os mantêm no topo. Na religião, os que detêm a estrutura excluem quem pensa diferente. Na alma, herdamos territórios psíquicos que nos foram entregues como promessa… mas estão cheios de cercas invisíveis. E passamos a vida tentando descobrir o que é realmente nosso.
A promessa era de terra para todos — mas a posse sempre foi uma ilusão. Porque a verdadeira promessa não era o chão, era o pacto. E o pacto está sempre em risco quando o ego se senta no trono da partilha.
O texto bíblico narra que algumas tribos foram negligentes ao ocupar totalmente seu território. Deixaram povos pagãos permanecer. À primeira vista, uma falha militar. Mas talvez seja um espelho: há partes de nós que resistem à ocupação plena da consciência. Partes onde os antigos medos, as crenças de escassez e os pactos de autoproteção continuam vivos.
E aí mora o perigo: terra dividida, alma fragmentada. A promessa vira posse. A fé vira sistema. A liberdade vira controle.
Nos liga muito ao hoje, uns tem terras demais a tanto que nem sabem o quanto, outros herdam pequenos corredores que mal cabe uma cama de casal no espaço, e no controle está o governo com seus impostos, suas restrições, a sua falsa reforma agrária tão prometida e não cumprida. Há muito a saber , muito a discutir, muito a entender...
É preciso entender para transformar:
É preciso voltar à terra não como senhores, mas como servos. Não como donos, mas como filhos. Porque o chão sagrado não é aquele que pisamos, mas aquele que nos transforma enquanto caminhamos.
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