A Fuga: Quando o Egito já não serve mais

 Hoje, sentado na sala de espera da farmácia especial,  a chuva quase não deixava os pensamentosse ouvirem,  imagina então as meninas chamando nas suas vozes pós infância, com o celular quase sem bateria e a paciência no negativo, pensei no povo do Êxodo. Porque, sejamos honestos, se tem algo que a gente quer todo mês é fugir do Egito das contas, boletos,  cartões,  consultas e exames. Mas e quando o Egito não é financeiro, de saúde, ele é existencial? Quando a prisão é emocional, religiosa, psicológica? Aí começa a verdadeira fuga… e nasce a crônica de hoje.

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A Fuga: Quando o Egito já não serve mais

Todo Êxodo começa com um incômodo.

Com uma ferida.

Com um “não dá mais”.

O homem no banco da igreja já sentiu isso.

Na alma, não no corpo.

Aquela sensação de que está vivendo em terra estranha.

De que serve a um sistema que o usa, mas não o vê.

Que o alimenta com migalhas e, ainda assim, cobra gratidão.

O Egito na Bíblia era lugar de fartura — até deixar de ser.

Era abrigo — até virar prisão.

Era trabalho — até virar escravidão.

E talvez seja esse o perigo:

Nem todo Egito começa ruim. Mas todo Egito se torna insuportável.

Quando o povo de Israel decide fugir, não é só uma escolha geográfica.

É uma decisão espiritual e psicológica.

É um basta.

É quando a dor de ficar se torna maior do que o medo de partir.

Quantos de nós ainda não fugimos do nosso Egito?

Da religiosidade tóxica.

Da família que só sabe manipular com culpa.

Do emprego que mata aos poucos.

Do relacionamento que já virou cela.

A fuga assusta.

Porque o Egito oferece certezas.

Mesmo que sejam dolorosas.

E o deserto promete liberdade.

Mas sem mapa, sem Waze, sem garantia.

O homem no banco da igreja pensa:

— E se eu fugir?

— E se eu me libertar dos discursos prontos, dos dogmas que não respondem mais, das relações que só me esvaziam?

Então escuta dentro de si:

— “Levanta, pega o que é teu e vai. Porque o Egito já não é mais lar.”

O Êxodo é menos sobre geografia e mais sobre identidade.

É menos sobre sair e mais sobre se tornar.

É a primeira faísca de rebeldia que nasce da coragem de quem ousa dizer:

“Deus me quer livre. E eu quero também.”

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