segunda-feira, 23 de junho de 2025

Déboras e Desnudos: Quando o Corpo Cala a Voz - da série O Homem Sentado no Banco da Igreja.

 Hoje na consulta vi muitas mulheres, uma delas me chamou a atenção pois comentava sobre todas as pessoas que passavam pelo corredor dos ambulatórios, e um comentário dela foi sobre a roupa muito curta da moça que passou em seus saltos altos... e aí pensei: Vou de Débora — mulher que julgava, liderava, profetizava em um tempo de caos e covardia masculina. Sua figura é força e lucidez em meio à fraqueza institucional e espiritual. E o contraste com o que se vê hoje — tantas vezes o feminino usado como isca, moeda, vitrine — abre uma reflexão poderosa sobre o que se perdeu… e o que ainda pode ser resgatado.



Déboras e Desnudos: Quando o Corpo Cala a Voz

Por Abilio Machado 


O primeiro passo é onde colocar o homem sentado nesta crônica... Então hoje ele está sentado no banco de um ônibus do Moradias Bom Jesus rumo ao terminal urbano onde pegará outro ônibus rumo a capital. A cidade corre pela janela, mas seus olhos estão fixos no celular. Chegou uma notificação: pedido de amizade. Uma mulher, corpo curvado, olhar direto, lábios entreabertos. Uma legenda que mistura desejo e carência: “Aceita?”

Ele suspira fundo. Não há julgamento — só um cansaço antigo. Pensa em Débora. A juíza. A mulher que não precisou expor o corpo para ser ouvida. E se pergunta: 

_Onde foram parar essas vozes?

Débora surge em um tempo de colapso. Israel está sob opressão. Homens com espadas, mas sem coragem. Chefes de tribo com títulos, mas sem postura. É ela quem se levanta. Não com armas — mas com presença. Julga debaixo de uma palmeira. Ouve, discerne, fala. Quando convoca Baraque para lutar, ele hesita. E ela diz: “Tudo bem. Mas a honra não será sua.”


Débora não precisava gritar, nem seduzir. Seu valor estava na clareza. Sua força era sabedoria. Hoje, a mulher continua forte — mas muitas foram convencidas de que só serão vistas se forem desejadas, se forem sensuais, vemos isso mas fotos e poses. A voz perdeu espaço para a imagem. A palavra cedeu lugar ao filtro, ao botox, a lipo, aos métodos com silicone.


Vivemos a era da exposição sem escuta. As Déboras modernas estão aí, mas soterradas sob algoritmos que premiam a nudez e ignoram a profundidade, a entrevistas e programas que expõem suas intimidades. Não é um ataque ao corpo — o corpo é sagrado. Mas quando ele se torna o único meio de validação, já não liberta… acorrenta na ideologia e aprisiona no sistema da bolha.


O feminino foi sequestrado por uma indústria que finge empoderar, mas vende. Que promete liberdade, mas cobra padrão. E os homens? Confusos, ora seduzidos, ora ressentidos, ora cúmplices. Incapazes de distinguir admiração de consumo. Olham para as mulheres como se fossem vitrines: clicam, curtem, descartam ou se desconstroem, também para ter validade, fazer parte, ser pertença ao grupitcho de algum movimento tudo porque não foi preparado a ser homem.


Débora desafia isso.


Ela lembra que há um lugar onde o feminino e o masculino podem se encontrar sem se devorarem: o território da honra, mas cadê a honra nos dias de hoje? Porém... aibda há esperança de um lugar onde ela não precise se despir para ser ouvida. E onde ele não precise dominar para ser respeitado, onde não precise se tornar algo que não lhe é fiel a sua essência.


Talvez por isso o homem, naquele ônibus, não aceite o pedido. Não por moralismo. Mas por saudade. Saudade de uma mulher que o olhe nos olhos e diga: “Levanta. Vai à luta. Mas saiba que a vitória não será só sua, porque somos um, weareone.”

Weareone fica ecoando em seu cérebro...



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