Aqui neste banco de praça ainda de madeira, (bem parecido com os que Taico faz na sua empresa no quase Águas Claras/São Vicente), enquanto vejo o povo passar apressado com sacolas, metas e olhos vazios, me pergunto: estamos mesmo indo rumo à Terra Prometida ou apenas girando em torno de um deserto envernizado de modernidade? Mais uma crônica da série O HOMEM NO BANCO DA IGREJA, para quem suspeita que o sucesso também pode ser uma armadilha disfarçada de bênção, desta vez, atravessando as miragens modernas rumo à tão sonhada... Terra Prometida.
Terra Prometida ou Produto em Lançamento?
Por Abilio Machado
Sentado neste banco de praça, entre um pombo distraído e o burburinho da cidade, minha mente divaga.
Lembro-me da promessa feita a um povo escravizado: “uma terra onde mana leite e mel”.
Hoje, a promessa é outra: Minha Casa Minha Vida (Divida).
Ou talvez: Meu Sucesso em 30 Dias.
Ou ainda: Ganhe Dinheiro Dormindo.
A Terra Prometida virou métrica de vaidade, não de sentido.
O deserto ainda existe. Só mudou de nome: chama-se jornada emocional, boletos acumulados, burnout digital, dependência de aprovação, depressão, ansiedade, arrimo de família, alienação parental, impostos.
E a promessa de saída? Está sempre logo ali — numa mentoria de R$997, num curso de produtividade com café e oração, ou em algum guru de Instagram que também “já esteve no fundo do poço”, mas agora fatura seis dígitos.
Trocaram o maná pela cebola, sim. Mas hoje a cebola vem embalada, com QR code e propaganda no YouTube, compras na shopee, shein, temu ou o badalado Mercado Livre.
A Terra Prometida moderna é um conceito inflado: o imóvel financiado em 35 anos com 3% de entrada e juros de 10% ao ano.
É o casamento com filtros e jantares fotogênicos.
É o corpo sarado com suplemento, bombas, culpas e rinoplastia emocional.
E o mais cruel: é a ideia de que, se você não chegou lá, o problema é você. O sistema te subjuga para que continue prisioneiro, acorrentado de alguma forma.
Deus prometeu uma terra.
O mundo te vendeu um lugar no feed, com um belo card e uma música de fundo.
E nesse desvio de rotas e sentidos, as “tábuas” do hoje são rasas: mensagens automáticas, frases motivacionais recicladas, e um evangelho de likes. Me siga, comente, se inscreva, ative notificação, me compartilhe...
O povo que andava em busca de propósito agora corre atrás de seguidores.
Somos nômades emocionais em uma travessia de ilusões.
Só que a verdadeira Terra Prometida nunca foi geográfica.
Ela é um estado de ser.
De estar.
De pertencer.
Mas isso exige uma fé que espera.
Uma alma que não negocia princípios por performance.
E um coração que aceita que o caminho mais curto raramente leva à verdade.
Que Deus tem promessas para você, mas isto é entre você, homem sentado no banco da igreja e Ele.
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