quarta-feira, 4 de junho de 2025

E Se Eu For Jonas Disfarçado?

A próxima crônica da série O Homem no Banco da Igreja avançará da dúvida à escuta — da fé questionada à voz dos profetas. Porque após o silêncio desconcertante das perguntas, surgem aqueles que ousaram falar, mesmo tremendo: os profetas. Se você tem medo de falar sobre seus pensamentos, esta cronica é para você



E se eu for Jonas disfarçado?

Sentado no banco da igreja, ele observa o vitral. Um peixe enorme engole um homem pequeno. O nome do vitral é “Jonas e o grande peixe”, mas poderia se chamar “A fuga que mora em mim”.

Porque a verdade é que ele também foge.
Foge das perguntas difíceis.
Foge do chamado.
Foge da vida real, enquanto canta louvores com os olhos fechados.
E se pergunta: “E se eu for Jonas disfarçado de crente fiel?”

A Bíblia está cheia de profetas, mas nem todos eram valentes.
Muitos eram apenas… humanos.
Isaías tremeu.
Jeremias chorou.
Elias quis morrer.
Jonas correu.

Mas o que esses homens tinham não era coragem cega — era um incômodo que não os deixava dormir em paz.
Profeta não é quem adivinha o futuro.
É quem enxerga o presente com tanta clareza que chega a doer.

E ali, sentado, ele começa a pensar:
— Será que os profetas não estão entre nós ainda hoje?
— Será que os silenciamos com liturgias e palmas e horários rígidos de culto?
— Será que o maior herege de todos é o que sufoca a profecia em nome da ordem?

Talvez ele mesmo já tenha ouvido o chamado.
Naquela vez que viu um morador de rua e sentiu o impulso de parar… mas não parou.
Naquela conversa em que alguém disse “não aguento mais viver”, e ele apenas respondeu “vou orar por você”, sem fazer mais nada.
Naquela sensação de que deveria escrever, falar, abrir a boca… mas achou que não era digno, não era teólogo, não era pastor.

Talvez ele seja Jonas.
Talvez todos nós sejamos.
E o peixe não seja um animal, mas as circunstâncias que nos engolem quando fugimos de nós mesmos.

E o mais belo é que Jonas não morre no ventre do peixe.
Ele é vomitado de volta ao seu destino.

O homem no banco da igreja começa a orar. Não para fugir, mas para ouvir.
E entre um silêncio e outro, escuta algo dentro dele sussurrar:
“A tua Nínive é onde você tem medo de ir. Mas é para lá que eu te envio.”

Ele se levanta. Não como herói, nem como santo. Mas como alguém que decidiu não correr mais.





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Psicoterapeuta Abílio Machado

Psicólogo (CH) | Terapeuta Integrativo

Pós-graduado em Neuropsicopedagogia (ICH) | Avaliação Psicológica - CFS

Especialista no ensino de Artes, Filosofia e Teologia

Pós-graduando em Psicanálise, Psicoterapia e Psicopatologia do Adolescente

Olhar sensível e integrativo, atuo no acolhimento de histórias complexas e na escuta profunda das dores humanas, promovendo espaços de reconstrução emocional e autoconhecimento. Meu trabalho transita entre a ciência, a espiritualidade e a arte — sempre guiado pelo respeito à singularidade de cada indivíduo




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