Hoje, sentado no sofá enquanto a louça me ignora da pia e o celular vibra com ofertas imperdíveis, percebi: cada notificação parece um novo mandamento, cada clique um culto disfarçado. E me veio o pensamento: o que é sagrado hoje? E o que eu carrego na minha própria Arca da Aliança?
A Arca da Aliança: O que carregamos como sagrado?
No tempo do deserto, Deus mandou construir uma arca.
Ela não era enfeitada com ouro à toa — carregava dentro dela as tábuas da Lei,
um pote de maná e a vara de Arão que floresceu.
Três sinais de orientação, sustento e milagre.
Hoje, se construíssemos uma nova arca, o que colocaríamos dentro?
Um iPhone?
Um boleto pago?
Um espelho?
Uma senha de Wi-Fi?
Talvez uma ring light, pra garantir que a imagem fique boa mesmo quando a alma não estiver.
A arca que era símbolo da presença divina agora virou mochila emocional. E muitas vezes com rodinhas para não pesar tanto, assim fazemos com tudo, procuramos minimizar as dores, as culpas e os remorsos...
Arrastamos culpas, desejos não resolvidos, a busca por validação.
Nosso sagrado é o que postamos — e o que escondemos no “modo avião”.
O corpo virou templo, mas mais pela estética do que pela ética.
Cultuamos o abdômen definido, a bunda empinada, o filtro facial perfeito. As aplicações de botões, próteses de silicone e a moda atual a harmonização...
E chamamos de "autocuidado" o narcisismo disfarçado de autoamor.
Os ídolos de ouro deram lugar a perfis verificados.
Seguimos falsos profetas que prometem paz interior em 5 passos e riqueza em 7 dias.
Muitos desses gurus contemporâneos roem o sagrado sem sequer mastigar a verdade.
São como ratos espirituais, devorando o que há de mais puro, com frases feitas e promessas de plenitude vendida em parcelas.
A espiritualidade virou um mercado e os fiéis, consumidores em busca de sentido com frete grátis.
O dinheiro virou bênção, a influência virou missão.
E Deus?
Deus, às vezes, é só o nome usado pra legitimar o que a gente já queria fazer. Conquista, poder, riqueza.
Na arca de hoje não tem tábua da Lei — tem regra do algoritmo.
Não tem maná — tem delivery.
E a vara de Arão? Substituída por um cartão de crédito com limite alto.
A pergunta que fica é:
Se a presença de Deus visitasse hoje o nosso “sagrado”, Ele ficaria ou sairia correndo?
Jesus virou coach.
O Espírito virou energia.
E o Pai virou conceito.
Mas o homem sentado no banco da igreja… ainda tem sede.
Ainda quer encontrar algo que não se compra.
Algo que não se embala.
Algo que o sustente quando o Wi-Fi cair, a conta zerar e o corpo falhar.
Porque no fundo, ainda desejamos algo que não perece.
Algo que floresça.
Algo que oriente.
Talvez o que esteja faltando…
É abrir essa nova arca e ver o que precisa ser tirado.
Pra que Deus possa, de fato, entrar.
Você deseja que Eus entre na sua vida ?
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