quarta-feira, 18 de junho de 2025

As Muralhas que Erguemos: Jericó em Nós! -da série O Homem Sentado no Banco da Igreja...

Hoje, este velho pensador está sentado num ponto de ônibus. Não há pressa em chegar, nem certeza de destino. O banco de concreto frio o ampara, e ao lado, um aviso desbotado diz que “uma das linhas foi desativada”. Ele sorri. “Quantos de nós ainda esperamos, parados, por algo que não virá mais?” Nesse compasso de espera, sua mente viaja até as muralhas de Jericó.



As Muralhas que Erguemos: Jericó em Nós

Por Abilio Machado 


Jericó. Cidade fortificada. Intransponível. Orgulho da arquitetura defensiva de um povo que confiava mais em pedras do que em diálogo. Os muros não protegiam apenas a cidade, mas também sua arrogância, sua autossuficiência, seu medo disfarçado de poder.


Hoje, nossos Jericós são outros. Já não construímos muralhas com tijolos e barro, mas com ideologias, bolhas digitais, cercas emocionais, doutrinas inflexíveis. Cercamo-nos para “não sermos contaminados”, para “manter a pureza”, para “não dar espaço ao inimigo”. Mas quem é o inimigo, afinal?


Na história bíblica, Deus manda o povo marchar ao redor da cidade por sete dias. Não atacar. Não derrubar. Apenas marchar. Em silêncio. Em obediência. Um movimento que, à primeira vista, parece inútil. Mas não é assim também com os processos internos? Quantas voltas precisamos dar ao redor dos muros que nós mesmos construímos para que finalmente caiam? Quantas terapias, quantas orações, quantos silêncios? Porque o grito final, que derruba a muralha, só vem depois da caminhada paciente e repetida.


Na política, quantas Jericós ainda impedem o povo de atravessar? Estruturas arcaicas, interesses particulares travestidos de patriotismo. Murais erguidos por séculos, sustentados por medos e narrativas forjadas. Gritar contra o sistema sem marchar por dentro de si mesmo é só mais ruído. Muro não cai com hashtag. 


Na fé, também há Jericós. Doutrinas absolutas, líderes infalíveis, liturgias impenetráveis. Igrejas que se tornaram cidades muradas. Esquecemos que a fé começa no deserto, na escassez, no caminhar errante, e não no conforto de muros.


E na alma... há Jericós que escondem feridas mal resolvidas, traumas silenciados, pactos feitos com o medo, há segredos de alcova, pensamentos errantes e desejos obscuros. O inconsciente guarda cada pedra, cada tijolo que um dia erguemos para não sentir dor. Mas viver murado é apenas adiar o colapso.


A queda das muralhas de Jericó não foi um ato de força, mas de confiança. De rendição. De escuta ao comando divino, ainda que ilógico. E talvez seja isso que nos falte: parar de gritar para as muralhas, e aprender a escutá-las. 

Elas têm muito a dizer sobre quem fomos — e sobre quem podemos deixar de ser para sermos realmente quem desejamos ser!



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