domingo, 1 de junho de 2025

O Câncer Não Tem Cor: A Luta Pela Equidade Não Pode Vir à Custa da Ciência e da Assistência..

 Hoje vi algo que me chocou numa rede a quem admiro e me assustei pois,  é um ponto extremamente sensível e relevante, e sim — podemos e devemos discutir isso de forma crítica, ponderada e responsável...



O Câncer Não Tem Cor: A Luta Pela Equidade Não Pode Vir à Custa da  Ciência e da Assistência

Por Abilio Machado,  paciente urooncologico.

Em tempos de movimentos identitários cada vez mais fortes, é preciso ter coragem para fazer uma pausa, respirar fundo e perguntar: até onde isso está realmente ajudando as pessoas? Quando a defesa de uma pauta começa a colocar em risco o próprio sistema que deveria proteger a todos — independentemente de cor, gênero ou classe social — é sinal de que estamos errando o alvo.


Recentemente, chamou atenção a iniciativa de criar uma "Rede Oncoguia de Pacientes Negros com Câncer". A ideia, por si só, parte de uma intenção legítima: visibilizar desigualdades históricas no acesso à saúde. Mas a maneira como isso tem sido conduzido levanta preocupações sérias. Quando uma camiseta com um slogan — “Pacientes Negros com Câncer” — se transforma em um símbolo de exclusão seletiva, não de inclusão equitativa, estamos frente a um paradoxo ético e clínico.


O câncer não escolhe vítima com base na quantidade de melanina. Ele ataca crianças e idosos, ricos e pobres, brancos, negros, pardos, indígenas. A biologia do tumor não reconhece bandeiras ideológicas. Portanto, o sistema de saúde, especialmente aquele voltado à oncologia, deve ser universal, baseado em critérios técnicos, clínicos e científicos. Quando começamos a filtrar sofrimento humano com lentes identitárias, corremos o risco de substituir um tipo de desigualdade por outro — o que, além de injusto, é perigoso.


Isso não significa ignorar que sim, existem disparidades no acesso a diagnósticos precoces e tratamentos de qualidade em determinadas populações. Isso é real. Mas a solução não está em segregar ainda mais, e sim em fortalecer políticas públicas que alcancem a todos, com equidade e responsabilidade. Lutar por melhorias no SUS, por campanhas de rastreamento em áreas de vulnerabilidade, por mais médicos em regiões negligenciadas — isso sim é revolucionário.


Movimentos que isolam, que colocam cor de pele acima do protocolo médico, não apenas desrespeitam a ciência como também silenciam a dor de quem não se encaixa nessa nova moldura de "visibilidade seletiva". O sofrimento não pode ser ranqueado. A empatia não pode ser racializada.


Enquanto discutimos quem merece mais atenção com base em traços genéticos, milhares de pacientes, de todas as cores, seguem na fila do SUS esperando por uma biópsia, uma quimioterapia ou uma palavra de esperança. A cor da pele pode influenciar estatísticas, mas jamais deveria decidir quem é mais digno de cuidado.


É tempo de unir, não dividir. De lutar contra o câncer, não entre nós.


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