"Infelizmente, todos que ainda não encontraram a verdadeira riqueza - a radiante alegria do Ser e uma paz inabalável - são mendigos, mesmo que possuam bens e riqueza material.
Buscam, do lado de fora, migalhas de prazer, aprovação, segurança ou amor, embora tenham um tesouro guardado dentro de si, que não só contém tudo isso, como é infinitamente maior do que qualquer coisa oferecida pelo mundo.
A palavra iluminação transmite a idéia de uma conquista sobre-humana - e isso agrada ao ego -, mas é simplesmente o estado natural de sentir-se em unidade com o Ser. É um estado de conexão com algo imensurável e indestrutível.
Pode parecer um paradoxo, mas esse "algo" é essencialmente você e, ao mesmo tempo, é muito maior do que você.
A iluminação consiste em encontrar a verdadeira natureza por trás do nome e da forma. A incapacidade de sentir essa conexão dá origem a uma ilusão de separação, tanto de você mesmo quanto do mundo ao redor.
Quando você se percebe, consciente ou inconscientemente, como um fragmento isolado, o medo e os conflitos internos e externos tomam conta da sua vida.
Gosto da definição simples de Buda para a iluminação: "É o fim do sofrimento". Não há nada de sobre-humano nisso, não é mesmo? Claro que não é uma definição completa. Ela apenas nos diz o que a iluminação não é: não é sofrimento. Mas o que resta quando não há mais sofrimento?
Buda silencia a respeito, e esse silêncio implica que teremos de encontrar a resposta por nós mesmos. Como ele emprega uma definição negativa, a mente não consegue entendê-la como uma crença, ou como uma conquista sobre-humana, um objetivo difícil de alcançar.
Apesar disso, a maioria dos budistas ainda acredita que a iluminação é algo apenas para Buda e não para eles próprios, pelo menos, não nesta vida.
Você usou a palavra Ser, Pode explicar o que quer dizer com isso?
Ser é a eterna e sempre presente Vida Única, que existe além das inúmeras formas de vida sujeitas ao nascimento e à morte.
Entretanto, o Ser não está apenas além, mas também dentro de todas as formas, como a mais profunda, invisível e indestrutível essência interior. Isso significa que ele está ao seu alcance agora, sob a forma de um eu interior mais profundo, que é a verdadeira natureza dentro de você.
Mas não procure apreendê-lo com a mente. Não tente entendê-lo. Só é possível conhecê-lo quando a mente está serena.
Se estiver alerta, com toda a sua atenção voltada para o Agora, você até poderá sentir o Ser, mas jamais conseguirá compreendê-lo mentalmente.
Recuperar a consciência do Ser e submeter-se a esse estado de "percepção dos sentidos" é o que se chama iluminação.
Quando você diz Ser, está falando sobre Deus? Se estiver, por que não diz expressamente?
A palavra Deus tornou-se vazia de significado ao longo de milhares de anos de utilização imprópria.
Emprego-a ocasionalmente, mas com moderação. Considero imprópria a sua utilização por pessoas que jamais tiveram a menor ideia do reino do Sagrado, da Infinita Imensidão contida nessa palavra, mas que a usam com grande convicção, como se soubessem do que estão falando.
Existem ainda aqueles que questionam o termo, como se soubessem o que estão discutindo.
Esse uso indevido dá origem a crenças, afirmações e delírios absurdos, tais como "o meu ou o nosso Deus é o único Deus verdadeiro, o seu Deus é falso", ou a famosa frase de Nietzsche, "Deus está morto".
A palavra Deus se tornou um conceito fechado. Quando a pronunciamos, criamos uma imagem mental, talvez não mais a de um velhinho de barba branca, mas ainda uma representação mental de alguém ou de algo externo a nós e, quase inevitavelmente, alguém ou alguma coisa do sexo masculino.
Tanto Deus quanto Ser são palavras que não conseguem definir nem explicar a realidade por trás delas.
Ser, entretanto, tem a vantagem de sugerir um conceito aberto. Não reduz o invisível infinito a uma entidade finita. É impossível formar uma imagem mental a esse respeito. Ninguém pode reivindicar a posse exclusiva do Ser.
É a sua essência, tão acessível como sentir a sua própria presença, a realização do Eu Sou que antecede o "eu sou isso" ou "eu sou aquilo".
Portanto, a distância é muito curta entre a palavra Ser e a vivência do Ser."
Eckhart Tolle - O PODER DO AGORA
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